Dois anos após acidente da Gol, parentes exigem explicações do governo

27/09/2008 - 17h42

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O acidente com o vôo 1907 da empresa aérea Gol completa dois anos nesta segunda-feira (29) e os familiares das 154 vítimas que morreram a bordo do Boeing 737/800 cobram esclarecimentos sobre as causas e esperam que os responsáveis pela tragédia sejam punidos. O avião se chocou com um jato executivo pilotado por norte-americanos.

A presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Angelita de Marchi, acusou órgãos do Poder Público como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) de agir com descaso não só em relação ao acidente, mas com todo o setor aéreo.

“Na hora do calor [do momento] fala-se muito, promete-se muito, mas, efetivamente, pouco é feito. Ainda vemos muito descaso", disse Angelita. Ela também criticou as autoridades do setor aéreo por não atenderem satisfatoriamente à associação. "Temos sempre que correr atrás delas e, muitas vezes, ficamos sabendo de algumas coisas pela mídia”, afirmou.

Angelita criticou a demora do Cenipa em concluir o relatório que irá apontar as causas do acidente. O primeiro prazo para que o documento ficasse pronto era de dez meses. “Depois passou para um ano, depois para janeiro deste ano, abril e, por fim, julho, ocasião em que o Ministro da Defesa disse que o levantamento já estava pronto e que seria tornado público em 20 dias. Hoje, a informação que temos é que ainda está no exterior para análise, sem data para conclusão”.

Para Angelita, o inquérito criminal que tramita no Tribunal Regional Federal (TRF) da Vara de Sinop (MT) “está andando devagar, mas pelo menos não está parado”. Ela se refere à decisão do juiz Murilo Mendes que, em março deste ano, autorizou os pilotos do jato Legacy, que se chocou com o avião da Gol, Joseph Lepore e Jan Paladino a prestarem depoimentos nos Estados Unidos .

“Inicialmente, o juiz havia decidido julgar os pilotos norte-americanos à revelia, mas voltou atrás e permitiu que eles respondessem ao inquérito por carta rogatória. Eles responderam às questões e as suas respostas foram transcritas para o inglês e uma cópia enviada para os dois, nos Estados Unidos. Desde então, pelo que sabemos, não houve qualquer retorno dos advogados”.

A Associação não sabe o número de famílias já indenizadas pela Gol, mas Angelita garante que é uma minoria. “Cerca de 120 famílias entraram com ações nos Estados Unidos, mas depois que a Justiça norte-americana rejeitou os processos, devolvendo-os ao Brasil por entender que nosso país tem condições de dar prosseguimento à ação, esses parentes têm tentado um acordo justo com a Gol. Só uma minoria já chegou a um consenso”.

Nas ações que moviam nos Estados Unidos as famílias processavam a empresa ExcelAir, proprietária do jato Legacy; a Honeywell, fabricante do transponder – equipamento eletrônico de comunicação que emite sinais capazes de identificar um avião e que, se estivesse funcionando, poderia ter impedido a colisão – e os dois pilotos norte-americanos.

“Hoje, nossa maior reivindicação é para que haja transparência e clareza em tudo que as autoridades estão fazendo. Que todas elas levem isso muito a sério pois a responsabilidade deles é mostrar aos brasileiros que existe Justiça nesse país, que podemos confiar em quem deve defender o povo. E, claro, que as autoridades trabalhem seriamente para que outros acidentes não aconteçam, o que, infelizmente voltou a ocorrer menos de um ano após a tragédia em perdemos nossos parentes”, diz Angelita, referindo-se ao acidente com o Airbus A320, da TAM, ocorrido no dia 17 de julho de 2007 e no qual morreram 199 pessoas.