Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - A Ferroeste (Estrada deFerro Paraná Oeste S.A.), denominada no passado de Ferroviada Soja ou Ferrovia da Produção, estuda ampliar suaárea de atuação. Atualmente a ferrovia, com 248 quilômetros, liga apenas as regiõesoeste e central do estado. O Brasil tem hoje duasempresas ferroviárias públicas,a Valec e a Ferroeste, mas apenas a empresa do Paraná éoperadora pública. A Valec, vinculada aoMinistério dos Transportes, concessionária federal, nãoopera ferrovias, constrói para subconcessionar àiniciativa privada. "A Ferroesteconstrói e opera", explica o presidente da empresa,Samuel Gomes.A empresa tem concessão para construir eexplorar uma ferrovia entre as cidades paranaenses de Guarapuava eCascavel e os ramais necessários para sua viabilidade. "O trecho emoperação, entre Cascavel e Guarapuava, foi construídoentre 1991 e 1994, em parceria com o Exército, com recursos dogoverno estadual, da ordem de US$ 363,6 milhões", contaSamuel. Segundo ele, aFerroeste é o exemplo de que a gestão públicapode ser eficiente e lucrativa. Ele cita o recorde de transporteobtido no último mês de junho. "Foramtransportadas 156.241 toneladas de carga, volume 89,6% superior as82.285 toneladas movimentadas no mesmo mês de 2006 pelacompanhia privada que administrava o trecho”, disse.Com o recorde, evitou-se, segundo Samuel, que transitassemmais de 6.500 caminhões na rodovia que liga Cascavel aParanaguá, onde está o maior porto graneleiro doBrasil. Além disso, possibilitou uma economia aos produtoresde mais de R$ 1,5 milhão em pedágio. “O primeiro semestrede 2008 é o melhor da história da Ferroeste”,comemora.Nessa perspectiva é que a empresa planejaconstruir 1,5 mil quilômetros de ferrovias até 2015, aum custo estimado de R$ 3,2 bilhões. "Os ramais, cujasconstruções já estão definidas, ligarãoCascavel (PR) a Dourados (MS), passando por Guaíra (PR) eMundo Novo (MS), e Cascavel (PR) a Foz do Iguaçu (PR)",informa Samuel. O presidente daFerroeste disse que para a construção de ambos osramais já existe concessão, projeto final de engenhariae estudos ambientais. Ele adiantou que a empresa estárequerendo o direito de estender a ferrovia de Dourados (MS) aMaracajú (MS).A construção do ramalCascavel-Maracajú foi decidida por acordo entre o governofederal e os governadores da Região Sul em reunião, emBrasília, no início desse ano. A extensãopermitirá a conexão com a Ferrovia Norte-Sul e com amalha ferroviária do Centro-Oeste. Com isso, as linhas daFerroeste poderão servir para o transporte de produtos deCorumbá e da Bolívia, que passarão a estar a umadistância de 1.700 quilômetros do Porto de Paranaguá,conforme explicou Samuel.Já a construção doramal de Cascavel para Foz do Iguaçu tem como respaldo asrelações internacionais do Brasil no âmbito daAmérica do Sul. O ramal compõe o corredor ferroviáriobioceânico, que deverá ligar os portos paranaenses ecatarinenses aos portos chilenos.A decisão políticade construir o corredor foi tomada pelos presidentes do Brasil, doParaguai, da Argentina e do Chile e encontra-se em fase deoperacionalização. Estabeleceu-se, duranteuma reunião em Buenos Aires, em maio último, um prazoentre cinco e dez anos para que o corredor esteja plenamente emoperação. O ramal entre Cascavel e Foz do Iguaçupassaria a ser considerado a parte brasileira do trechoCascavel-Paraguai, assumido pelos dois países como um projetobinacional. Segundo Samuel, a partebrasileira, entre Cascavel e Foz do Iguaçu, com 170quilômetros, já conta com projeto final de engenharia,onde a Ferroeste investiu R$ 9 milhões nos estudospreliminares de viabilidade e estudos ambientais. Esses últimosprecisam apenas ser atualizados.O Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ficou encarregadodos estudos e das medidas necessárias à estruturaçãoe viabilização do empreendimento. O trecho entre Foz doIguaçu e o ponto de ligação no territórioparaguaio com a fronteira argentina terá cerca de 500quilômetros e custará em torno de US$ 600 milhões,já incluído o custo da ponte ferroviáriainternacional sobre o rio Paraná entre Foz do Iguaçu ePuerto Presidente Franco.A Ferroeste também finalizouestudos de pré-viabilidade para a construção deum ramal de Guarapuava ao porto de Paranaguá, que recentementeinaugurou um importante corredor de carnes frigorificadas. "O primeiro trechodo ramal para Paranaguá ligará as cidades paranaensesde Guarapuava e Lapa [estação Engenheiro Bley].Essas obras já estão no Programa de Aceleraçãodo Crescimento (PAC)", disse Samuel.A Ferroeste estudatambém a viabilidade de um ramal entre Laranjeiras do Sul (PR)e Chapecó (SC), que permitirá à indústriada carne do oeste de Santa Catarina beneficiar-se com a reduçãono custo do transporte dos insumos originários do Mato Grossodo Sul e Paraná, bem como transportar por ferrovia o produtofinal em containeres frigorificados até os portos paranaensese catarinenses. A ligação ferroviária entre osportos catarinenses pela chamada Ferrovia Litorânea prevêa extensão das linhas ao porto de Imbituba (SC).AsFederações de Indústrias dos Mato Grosso do Sul,do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul defendem aligação ferroviária entre todos os portos dosestados do Sul. Com a conclusãodo seu projeto de expansão, a Ferroeste seráproprietária e operadora de uma malha ferroviária de1.500 quilômetros, conectando as regiões Sul eCentro-Oeste, bem como o Paraguai, a Bolívia e regiõesda Argentina aos portos paranaenses e catarinenses.