Ex-presidente do Banco Central sugere que BNDES estreite parceria com o setor privado

18/06/2008 - 0h23

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga concordou com a proposição feita hoje (17) pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto de que o Estado brasileiro deve ter uma participação significativa como indutor do desenvolvimento do país. Fraga afirmou, durante seminário comemorativo aos 56 anos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio,  que a instituição deve desempenhar o papel de alavancador do crescimento de longo prazo, “em um ambiente em que o mercado ainda não é capaz de suprir as necessidades”.Fraga destacou  que  a manutenção de um ambiente macroeconômico estável e previsível é fundamental para superar eventuais crises. “Cabe ao Estado oferecer regras do jogo razoáveis e estáveis. Essa é a base do empreendimento audacioso, de grande escala e de prazo mais longo”, indicou.De acordo com ele, o Brasil vem acertando nos últimos anos e os fundamentos macroeconômicos vêm sendo reforçados aos poucos, o que contribui para alongar os horizontes da economia brasileira e para a ampliação dos investimentos. Sinalizou, contudo, que  devem ser feitos mais investimentos em duas áreas prioritárias: infra-estrutura e educação. Nelas, segundo ele,  “há enormes carências, qu limitam o nosso potencial de crescimento, que é enorme”.Fraga avaliou que mesmo com o aumento da taxa de investimentos de 14% para 17%  do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, o que se observa  é que ainda não houve o avanço preciso. Nas décadas de 60  e 70, lembrou, o Brasil investia 5% do PIB em infra-estrutura. Hoje, o investimento nessa área representa algo como 2% do PIB. “Hoje, acho que as carências recomendariam que nós  tratássemos de criar condições para que o investimento em geral aumentasse,  mas, em particular, em infra-estrutura”.O ex-presidente do Banco Central argumentou que se o governo conseguir limitar o crescimento do gasto público, que hoje já chega a cerca de 40% do PIB,  a taxa de juros poderia cair a níveis parecidos com  os do México, cuja taxa de juros real é de 10% ao ano e as taxas nominais são de um dígito. Analisou que passado o atual ciclo de pressão inflacionária, as taxas de juros deverão voltar a cair no Brasil “e penso que nós vamos chegar a 4% e até menos, em um horizonte não muito distante”.O problema é o que fazer até lá, diante do ciclo de investimento que necessita ser preservado e estimulado, sinalizou. Para isso, salientou a necessidade  de redução de incertezas de natureza  regulatória. Disse que os mecanismos de financiamento do setor imobiliário, iniciados há cerca de uma década, começam hoje a funcionar. E isso poderia acontecer em muitas outras áreas.Com esse objetivo, sublinhou  que deve se continuar perseguindo uma queda nos spreads (taxas de remuneração) bancários  em geral; insistir na reforma da Previdência, que considerou importante para o futuro fiscal do país;  e criar uma poupança com horizonte mais longo.Em relação ao BNDES, frisou que a instituição tem todas as condições para enfrentar as demandas do novo ciclo de investimentos, redefinindo suas prioridades e trabalhando em parceria com o mercado privado. Fraga apontou que o BNDES  deve ser cada vez mais um agente complementar às demais fontes de financiamento e sugeriu que é hora de  o banco repensar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que pratica em suas operações, porque  considera que ela introduz “algum risco e incerteza”.Para o ex-presidente do Banco Central,  o BNDES deve insistir no co-financiamento privado em todos os projetos. “Eu recomendaria isso”. Indicou ainda o caminho da terceirização e mecanismos de leilão nesse momento de escassez de crédito e de crescimento da demanda por financiamento.