Amanda Cieglinski e Lílian Beraldo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Cerca de 2 milprefeitos reuniram-se no início da semana em Brasíliapara a cerimônia de aniversário de um ano do Plano deDesenvolvimento da Educação (PDE). Muitos delesrepresentavam os 1.242 municípios prioritários, ouseja, aqueles que registraram os piores resultados no Índicede Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) eganharam atenção especial nesse primeiro ano do plano.Ainda assim, alguns deles, ao serem questionados sobre o assunto, não sabiam qual era a nota de seu município, muito menos ameta que deve ser atingida a cada dois anos.O Ideb é otermômetro da qualidade da educação básicae a principal meta do PDE é elevar esse índice atéque o país atinja a média 6 em uma escala de 1 a 10. Em2005, a média nacional foi 3,8 pontos. A prefeita FranciscaBezerra, de Redenção (CE), avalia o PDE como “muitobom” porque garante verba para os municípios. Ela veio aBrasília assinar convênio com os programas Caminhos daEscola e Proinfância, mas não sabia qual era o Ideb desua cidade. “Eu não estou sabendo, só sei que estamosentre os melhores”, disse. Redenção registrou um Idebde 3,2 pontos, abaixo da média nacional. José AlmeidaSilva, prefeito de Cajazeirinhas (PB), disse que veio a Brasília“cumprir sua função como gestor” e tentar verbaspara o transporte escolar. Ele também não sabia o Idebdo seu município, que é de 2,7. Maria AuxiliadoraRezende, presidente do Conselho Nacional de Secretários deEducação (Consed), afirma que “infelizmente essa éa realidade”. “Essa discussãoé nova, mas o ministro foi em praticamente todos os estados,o PDE e as metas foram apresentadas e muitos municípios jáelaboraram o seu PAR [Plano de Ação Articulada]”,destaca. Justina de Araújo, presidente da UniãoNacional dos Dirigente Municipais em Educação (Undime), tambémnão se surpreende com o resultado. “A gente que convivecom os prefeitos mais de perto não se surpreende com esse tipode afirmação por parte de alguns deles. Educação,saúde e segurança sempre foram prioridade no Brasil nonível do discurso, mas na prática não tem sido”,aponta.Para o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, não há surpresa na constatação de que os prefeitos não saibam o valor do Ideb das cidades onde são os principais representantes e que não saibam o que significa Ideb ou "outras siglas criadas em Brasília". Segundo ele, falta discussão com os gestores no momento da criação de planos e de políticas públicas. "Não há respeito federativo. Não há debate com os principais interessados. As políticas são criadas e despejadas por todo o Brasil que possui municípios com os mais diferentes perfis", diz alegando não defender os prefeitos. De acordo com Ziulkoski, além do governo, é preciso que a sociedade civil também cumpra seu papel. "A sociedade brasileira é omissa. Não há debate", conclui. A Frente Nacional dosPrefeitos (FNP) foi procurada para comentar o assunto, mas opresidente da organização, João Paulo Lima eSilva, não estava disponível para entrevistas. A Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) também foiprocurada pela reportagem, mas preferiu não se pronunciar sobre oassunto.Aconsulta ao Ideb de cada estado, município e escola estádisponível no site do Ministério da Educação.