Amorim defende fechamento de acordo na OMC até o fim do ano

22/04/2008 - 18h33

Mylena Fiori
Enviada especial
Agra (Gana) - A atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC)  poderá ficar ainda mais truncada, caso não saia um acordo até o final deste ano, e corre o risco de sofrer interferências do novo governo norte-americano, que será eleito em novembro e assumirá em janeiro de 2008. O risco independe de partido, alertou hoje (22) o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim."Na área agrícola, não interessa muito a que partido você pertence, mas de que estado você vem – a verdade é essa. Não creio que isso fará uma grande diferença com relação à rodada. O que há é que sempre que há uma mudança de administração, mesmo quando é o mesmo partido. As pessoas têm que reaprender, querem ver se aquilo que foi pré-negociado corresponde aos interesses", disse o chanceler a jornalistas, após encontro bilateral com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, em Gana."Não podemos postergar as eleições norte-americanas, todos temos que estar conscientes disso. O ideal é ter tudo pré-negociado", alertou o ministro. Ele não acredita, no entanto, na negociação de um acordo mais genérico que permita formalizar o fechamento da rodada – que já dura sete anos – no mês que vem. A hipótese corre nos bastidores de Genebra, na Suíça."Não acho que se vai fechar de qualquer maneira, acho que tem que se fechar um bom acordo. Pode não ser o acordo ideal para todos, mas acho que se fechará um bom acordo que criará limitações efetivas na área de subsídios, que vai criar algum acesso a mercados importantes na Europa e nos Estados Unidos", avaliou Amorim.Segundo o ministro, mesmo nos chamados produtos sensíveis, os países desenvolvidos terão que estabelecer cotas para entrada de produtos agrícolas dos países em desenvolvimento. Essas cotas serão baseadas em percentuais do consumo interno - ainda está em discussão um percentual entre 4% e 6%. "Era uma reivindicação que tínhamos desde o início, e sófoi possível conseguir agora mais para o final. Mesmo em Potsdam [Alemanha], há um ano, eles não estavam falando ainda em percentual do consumo interno", frisou o chanceler. A reunião de Potsdam ocorreu em junho de 2007. A falta de avanços resultou na implosão do G4 - grupo formado por Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia, que vinha liderandoas negociações da Rodada Doha.Para o chanceler, a mudança de posição das grandes potências é um exemplo claro de que as negociações estão avançando. "Acho que a agricultura brasileira, que é muito competitiva, vai ter ganhos. O grande problema é saber se você cria condições para que a agricultura dos países mais pobres, como é o caso de países africanos, do Caribe ou de outros países latino-americanos e, talvez, asiáticos, tenha ganhos suficientes", ponderou.