Defensoria Pública ajuda mulheres a enfrentar a violência doméstica

21/04/2008 - 14h19

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Durante 25 anos, Júlia (nome fictício)conviveu com um homem que a violentava física epsicologicamente. Mesmo depois de sair de casa e ir morar em outracidade, o companheiro de Júlia continuou a visitá-lapara persegui-la, torturá-la e espancá-la. Ele chegou aprendê-la dentro da residência e a ameaçá-lacom revólver. Segundo ela, uma vez ele foi ao seu trabalho e aagrediu diante de várias pessoas. Em outras ocasiões,atirou contra a casa casa dela.Em entrevista à Agência Brasil,Júlia contou que foi agredida pelo companheiro, com o qualteve três filhos, durante todo o período em que viveramjuntos. Ela chegou a registrar oito boletins de ocorrência napolícia , mesmo com a desaprovação da família.“Quando pedi ajuda para minha família, umdos meus irmãos disse aquela velha frase - 'ruim com ele, piorsem ele' - e que eu tinha meus filhos. Além disso, eu tinhavergonha, achava que se falasse para as pessoas eles merecriminariam, em vez de me ajudar”, disse Júlia.Há seis anos, ela se considera recuperadapsicologicamente e livre do ex-marido. A liberdade começou em1993, quando procurou a Casa Eliane de Grammont e encontrou apoiopsicológico e incentivo para mudar a situação.Se a Defensoria Pública já atuasse no local naquelaépoca, Júlia acha que teria conseguido encaminhar commais facilidade os processos contra o marido e também o deseparação.“Embora meu caso tenha ido para o fórum,tenha sido julgado, muitas vezes encontrei dificuldade atépara registrar um simples boletim de ocorrência. Se aDefensoria Pública já existisse aqui, alguémteria que me orientado sobre meus direitos, meu divórcio teriasido mais fácil. Eu lidei com tudo no escuro, abaladapsicologicamente e sem dinheiro”, lembrou Júlia.Embora tenha vivido situaçãoigualmente dolorosa, Raquel (também nome fictício)conta com o apoio dos defensores públicos na Casa Eliane deGrammont para superar a violência doméstica. Durante dezanos de casamento, ela foi agredida três vezes. Em todasocasiões, registrou ocorrência na polícia. Em umadelas, foi hospitalizada com traumatismo craniano. Mesmo assim, nãoteve coragem para deixar o companheiro.O agressor, recordou Raquel, chegou a ser chamadoao fórum. Lá, ela disse ter percebido que todos osesforços eram feitos para que não prejudicasse ocompanheiro. “Eles me diziam para aceitar as desculpas, esquecertudo e voltar para casa, porque ia ficar tudo bem. Diziam para eusair da casa, ir cuidar da minha vida, como se as pessoas pudessemviver assim. Como se tivesse um mundo mágico do outro lado daagressão”.Quando decidiu acabar com a situação,Raquel procurou a Casa Eliane de Grammont, onde encontrou orientaçãoda defensoria pública para seguir com outros dois processos.“Há três semanas, eu não conseguia falar, dizero que eu queria. Aqui me tranqüilizaram e me orientaram.”Raquel disse que, a partir do encontro com osdefensores públicos na Casa Eliane de Grammont, passou a sesentir mais segura. Por isso, está fazendo tudo com atranqüilidade e seguindo os caminhos legais. “Os doisdefensores que me atenderam tiveram procedimentos absolutamenteidôneos. Me mostraram os caminhos, segui as orientaçõesdeles e encontrei respostas. Estou no começo de tudo, confioque serei ouvida, não sei se serei atendida.”