Estudo avalia qualidade do balanço de pagamentos do país

05/04/2008 - 9h20

Ivanir José Bortot
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Estudos internos daárea econômica do governo, obtidos com exclusividadepela Agência Brasil, indicam preocupaçãocom a qualidade do balanço de pagamentos do país,apesar de reconhecer a existência de elevadas reservasinternacionais.O que preocupa oseconomistas é a velocidade com que vem aumentando o déficitde contas correntes, que chegou a US$ 4,9 bilhões nosúltimos 12 meses, na posição de fevereiro de2008, embora isso não signifique, na visão dostécnicos, qualquer tipo de descontrole das contas externas.Chamam também atenção aredução do superávit comercial - em funçãodo maior crescimento das importações, impulsionadaspela atividade interna e pela taxa de câmbio; o aumento daremessa de lucros e dividendos das empresas estrangeiras ao exterior;além de um maior gasto com viagens internacionais, comtransporte marítimo e aéreo, de mercadorias importadase exportadas. O déficit em conta corrente vem sendoamenizado pela conta de capital, destacando-se o elevado fluxo deinvestimentos estrangeiros diretos, que acumulou, atéfevereiro, US$ 36,5 bilhões referentes aos 12 mesesanteriores, e também pelos investimentos em carteira de US$57,9 bilhões, em títulos de renda fixa e em açõesno mesmo período. O trabalho diz que, apesar da volatilidadeobservada em algumas contas no último semestre, o fluxo deentrada na conta de capital tem sido suficiente para fazer frente àconta corrente e às amortizações da dívidaexterna, possibilitando ainda um acúmulo de reservasinternacionais de US$ 91 bilhões, em 12 meses, atéfevereiro. Em fevereiro de 2008, o fluxo de investimentosestrangeiros diretos somou US$ 900 milhões, queda considerávelem relação a janeiro, quando atingiu US$ 4,8 bilhõesdevido, em parte, a três operações pontuais derepatriação de investimento: duas no setor de alimentose uma no segmento de comércio.

Contudo, até o dia 24 de março, ofluxo de ingresso demonstrou um tendência derecuperação, fato que, junto com a elevada demandainterna, fizeram o Banco Central elevar as projeções doaumento do investimento direto de US$ 28 bilhões para US$ 32bilhões em 2008. Como ocorreu em 2007, neste ano o setor deserviços, com 57%, foi o que mais recebeu investimentoestrangeiro no primeiro bimestre, a maior parte na área deserviços financeiros. A metalurgia, com 13,9 %, foi o setorindustrial com maior fluxo positivo de recursos. A entrada mais expressiva do investimentoestrangeiro direto e sua composição explicam, em parte,a elevação no fluxo de lucro de dividendos,proveniente, principalmente, de montadoras e de bancos, setores quevêm sofrendo com a crise financeira e o quadro de recessão dosEstados Unidos, segundo o estudo. Quanto ao investimento em carteira (açõese títulos), apesar da melhora observada em fevereiro, o BancoCentral diminuiu a previsão de entrada para o ano devido àsuspensão do plano de fazer ofertas iniciais de açõespor diversas empresas brasileiras. Por outro lado, as empresas nãotêm tido dificuldade em tomar empréstimos no mercado externo,renovando e ampliando seus débitos, embora a juros maiselevados. O saldo do balanço de pagamentos continuoua registrar resultado positivo. O país possui um montante deativos externos, que incluem reservas internacionais de US$ 192,9bilhões, haveres de bancos comerciais no exterior de US$ 21,2bilhões e créditos de brasileiros no exterior de US$2,8 bilhões. Os ativos externos superaram os passivos (dívidaexterna total de US$ 198,1 bilhões) em US$ 18,1 bilhões. A folga para fazer frente aos pagamentos externosé ainda maior, se for considerado que 80% da dívidadeverá ser paga no médio e longo prazos, enquanto osativos têm elevada liquidez. Contudo, nestes valores nãose inclui como passivo os recursos de não-residentes no paísque, em uma crise de liquidez, podem vir a sair do mercado interno,como os empréstimos intercompanhias, os investimentos em açõese em títulos públicos internos. Outro fator que pode afetar a posiçãode credor internacional é a elevada captação derecursos no exterior.