Para pecuaristas, embargo à carne brasileira deve-se a problemas de gestão

15/02/2008 - 21h21

Débora Xavier
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As dificuldades que o Brasil está enfrentando para exportar carne para a União Européia (UE) se devem à má administração do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), afirmou hoje (15) o presidente da Associação Brasileira de Criadores (ABC), Luiz Alberto Moreira Ferreira.De acordo com o pecuarista, que integra o Sisbov do Ministério da Agricultura, o Brasil, como maior produtor mundial de carne, fornece produto de boa qualidade a preços vantajosos. Apesar disso, segundo ele, a má gestão compromete as vendas para o exterior.“Não temos o mal da vaca louca, e a febre aftosa, que ainda não conseguimos debelar, não mata ninguém. Mas o país perde por causa da má gestão de um sistema vital para a exportação”, alega Ferreira.“O processo de rastreabilidade está funcionando mal, tem falhas, tem fraudes. Além disso, o Brasil age politicamente e tecnicamente muito mal, e com pouca representação comercial. E a culpa é de todos nós, certificadores, pecuaristas, frigoríficos, governo”, acrescenta.As exportações de carne foram suspensas desde 1º de fevereiro, quando a União Européia negou-se a aceitar a lista de 2.681 propriedades apresentadas pelo governo brasileiro como aptas a exportar o produto. Na avaliação de Ferreira, o embargo foi provocado pela própria postura do Ministério da Agricultura.“A desconfiança da veracidade da lista se deve à informação que técnicos do Ministério da Agricultura teriam passado de que seria possível vistoriar somente umas 300 propriedades. Como eles poderiam acreditar então em tantas vistorias nesse curto espaço de tempo?”, questionou.Para Luiz Alberto, dois meses certamente não são suficientes para fazer auditoria rigorosa em quase 3 mil propriedades. “O ministério reforçou a desconfiança da UE dizendo que então iriam se contentar com cerca de 600 propriedades”, comentou.Segundo o presidente da ABC, os técnicos da UE, que já vieram estiveram pelo menos três vezes ao Brasil para realizar auditagem, visitam propriedades, frigoríficos, laboratórios, fornecedores, certificadoras. “Eles têm todo um processo para avaliar se o que está se fazendo aqui está dentro dos padrões que eles estabeleceram, não somente para o Brasil, mas para todo e qualquer país que queira vender carne para eles”, explicou.O rastreamento no Brasil, afirmou Luiz Alberto, vem sendo feito de forma não muito constante, com altos e baixos: “O Sisbov ora rastreia bem, ora não rastreia. Há várias impropriedades e irregulares”. Ele disse as denúncias agravam o problema. “Aí então querem fazer uma mudança radical. Tem gente agora até falando em extinguir tudo. Isso é péssimo para o Brasil”.Segundo Luiz Alberto, o Sisbov deve revisto, aprimorado e preservado. “O sistema é evolução, é uma defesa. No futuro, ele vai ser exigido também para o mercado interno. Afinal, o consumidor brasileiro é igual ao consumidor europeu, ou não é?”, indagou.