Vinicius Konchinski e Sabrina Craide
Repórteres da Agência Brasil
São Paulo e Brasília - A PolíciaFederal (PF) anunciou que abrirá um inquérito policialpara apurar se houve vazamento de informações sigilosassobre a Operação Persona. Em nota, a Superintendênciada PF em São Paulo afirma hoje (19) que não se pronunciou sobre oandamento das investigações e que o vazamento, sehouver, configura infração criminal. A OperaçãoPersona, deflagrada em outubro pela PF com a Receita Federal doBrasil e o Ministério Público Federal, teve o objetivode desarticular um esquema de fraude que envolveria a Cisco Systems eempresários brasileiros. A Cisco é uma multinacionalnorte-americana do ramo de serviços e equipamentos de altatecnologia para redes de computadores empresariais, internet etelecomunicações.Uma reportagempublicada ontem (18) no jornal Folha de S. Paulo afirma quedocumentos apreendidos pela Polícia Federal e gravaçõesde conversas telefônicas indicam que a Cisco Systemsdoou R$ 500 mil ao Partido dos Trabalhadores (PT) usando duasempresas como "laranjas".Segundo interpretaçãode policiais, diz o texto, "a Caixa Econômica Federalalterou o edital de leilão eletrônico para que a empresaque distribui produtos da Cisco, a Damovo, vencesse a disputa",em troca da doação. O contrato teria valor total de R$9 milhões. O banco e o PT negam a irregularidade.Segundoa reportagem, a PF apreendeu, durante a OperaçãoPersona, dois recibos de R$ 250 mil referentes a doaçõesfeitas pela ABC Industrial e pela Nacional Distribuidora deEletrônicos. A matéria informa que "sãofartos os indícios de que as empresas [ABC e Nacional]são de laranjas, segundo as investigações".Deacordo com a matéria da Folha, em ligaçõesinterceptadas pela PF, dois funcionários da Cisco – SandraTumelero e Carlos Carnevali Júnior – falavam das doações.Carnevali Junior é filho de Carlos Carnevali, que foi presodurante a Operação Persona.Na últimaquinta-feira (15), antes da publicação da reportagem, aCisco publicou um comunicado em sua página na internetinformando o afastamento de Tumelero e Carnevali Júnior. Nocomunicado, a empresa afirma que a decisão foi motivada por"descobertas preliminares no processo de investigaçãointerna". A Cisco informou também que os dois ficarãoem licença remunerada até que sua apuraçãoseja concluída.O PT publicou nota oficial ontem em seusite afirmando que as informações contidas nojornal são "todas baseadas em ilações e emdeclarações inverídicas de pessoasnão-identificadas." De acordo com o texto, "atéo momento o partido não recebeu qualquer comunicaçãoformal da Polícia Federal de que estaria sendo investigado,oportunidade em que poderia esclarecer eventuais suspeitas. Estranha[o partido], portanto, que a PF tenha chegado àsconclusões a que se refere a Folha."Opartido confirmou que recebeu as doações das duasempresas citadas na reportagem via transferência bancária,e afirmou que os valores constarão da prestaçãode sua prestação de contas que será apresentadaao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O PT declarou ainda que nãovincula doações a processos licitatórios ouconcorrências no serviço público, nem autorizaalguém a proceder dessa maneira em nome do partido.A Caixa informou, pormeio de nota de sua assessoria de imprensa, que a afirmaçãoda Folha de S.Paulo deque o edital foi alterado para beneficiar a empresa Damovo éfalsa. “A Folha de S. Paulo manipula a informação,confunde seus leitores entre os diferentes itens do edital delicitação e sustenta um jornalismo acusatóriosem direito à contestação da outra parte,distorcendo informações que são públicase estão à disposição de qualquer cidadãono site da Caixa”, diz o comunicado.A nota informa aindaque a empresa mandou abrir processo de auditoria interna assim que assupostas irregularidades foram noticiadas pela imprensa, hámais de 15 dias e que , com base na Lei de Imprensa, a Caixa pediu apublicação integral da nota, com igual destaque ao dadona matéria.