Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O controle do tráfico de armas deve priorizar as malhas rodoviárias brasileiras, maximizando investimentos na área de inteligência, para que o Brasil possa cooperar com os órgãos de inteligência dos países vizinhos. É o que recomenda o pesquisador Pablo Dreyfus, coordenador do projeto de Controle de Armas de Fogo da organização não-governamental Viva Rio.Durante a Conferência do Forte de Copacabana sobre Segurança Internacional, na semana passada, ele defendeu a interceptação dos carregamentos dentro do país. Segundo ele, nos últimos quatro anos, a média de apreensão de armas ilegais de diversos calibres e tipos no Rio de Janeiro foi de 13 mil por ano.Desse total, cerca de 2% eram fuzis ou armas automáticas. Em Buenos Aires, na Argentina, foram apreendidas três mil armas em dois anos. Comparando-se o Rio de Janeiro dos anos 80, o volume de apreensões de armas cresceu dez vezes no mínimo, estima o pesquisador.
De acordo com ele, o fator determinante desse aumento do tráfico ilegal de armas na capital fluminense ocorreu entre 1985 e 1986, com a entrada do tráfico de cocaína na cidade.“A entrada do tráfico de drogas aumentou a violência armada entre os homens jovens de 15 a 29 anos de idade. Tem um androcídio no Brasil. Tem homem jovem matando homem jovem, sobretudo homens jovens de setores de baixos recursos e pouco acesso à educação. Ou seja, jovens sem oportunidade no mercado legal, que são cooptados pelo negócio do narcotráfico.”Pablo Dreyfus avalia, porém, que o país está fazendo um bom trabalho no controle de armas. Comparando à situação anterior ao Estatuto do Desarmamento, de 2003, verifica-se, segundo ele, que “o Brasil tem avançado muito no controle do mercado doméstico". "É só ver as taxas de morte por arma de fogo.”O número caiu de 22 casos por mil habitantes em 2003 para 18 hoje. “É a primeira queda histórica em décadas das mortes por arma de fogo. É um sintoma de que o Brasil tem melhorado no aspecto da violência armada.”
Na avaliação do especialista, contribui para isso o melhor aparelhamento da Polícia Federal, que criou uma seção especializada para repressão ao tráfico de armas. O que falta, apontou Dreyfus, é uma maior integração entre os Estados e o governo federal, além de combater a corrupção nas instituições. “Tem problemas que acontecem, às vezes, por falhas institucionais que têm de ser controladas.”
Em relação a outros países, o coordenador do projeto do Viva Rio considerou que o Brasil faz "o dever de casa". Do mesmo modo, a Argentina desenvolve uma campanha de recolhimento de armas. A Colômbia também possui programas efetivos de combate ao tráfico ilegal nas cidades, apesar de nas áreas de conflito isso ser quase impossível de realizar.Na opinião do especialista em segurança, o Brasil havia chegado a uma situação limite, mas conseguiu reagir frente à saturação dos níveis de violência. “E está progredindo. Eu sou otimista."