Índios xikrin ocupam Vale do Rio Doce, em Carajás

18/10/2006 - 18h25

Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As atividades da Companhia Vale do Rio Doce, em Carajás(PA), estão suspensas desde ontem (17), quando cerca de 200 índios da triboXikrin ocuparam as instalações da empresa. Em nota à imprensa divulgada hoje (18), a Vale afirmou queos índios “invadiram, de forma violenta (...) armados de arcos, flechas ebordunas”. De acordo com a Vale, foram ocupadas locomotivas, a sala de controlede pátio e outras instalações. Teriam sido furtados pelos índios, segundo acompanhia, objetos pessoais de funcionários, além de mantimentos do restaurantee da dispensa. Ontem (17), 600 empregados que seriam transportados para oNúcleo Urbano, em Carajás, em ônibus da Vale, foram feitos reféns por cerca deduas horas. E, na manhã de hoje, cinco mil funcionários teriam sido impedidosde entrar na área industrial da companhia.O administrador da Fundação Nacional do Índio (Funai) emMarabá, Raulien Oliveira de Queiroz, acompanha a ocupação da Vale e disse, ementrevista à Agência Brasil, que não foram feitos reféns e que nada foiquebrado ou saqueado. “Os índios estão aqui pacificamente. Acabamos de fazeruma reunião com a Polícia Federal porque já existe uma liminar judicial parareintegração de posse. As lideranças vão se reunir e decidir o que fazer”,informou. Segundo Queiroz, a empresa descumpriu parte de um termo decompromisso firmado em maio com os índios. Pelo termo, em setembro seriadiscutido o aumento de repasses financeiros às comunidades indígenas, mas aVale não compareceu à reunião marcada. “Os índios chegaram aqui nesta semanapara cobrar uma posição e a Vale estava bloqueando estradas para que eles nãose aproximassem. O que eles [os índios] querem agora é que uma reunião sejaagendada”, afirmou.De acordo com Marcos Antônio Reis, da Regional do ConselhoIndigenista Missionário (Cimi) em Marabá, os xikrins reivindicam o aumento dosrecursos repassados pela Vale do Rio Doce às comunidades indígenas da região.Segundo a companhia, os índios recebem anualmente R$ 9 milhões, que sãoadministrados por associações indígenas sediadas na área de atuação da empresa.Os recursos, de acordo com o Cimi, são utilizados em obras de infra-estrutura,na construção de estradas e casas e na promoção da subsistência de famílias deíndios.“A Vale divulga o repasse destes recursos como se fosse umaação de caridade, já que a atuação da empresa não está dentro dos limitesgeográficos das terras indígenas, mas os índios vêem isso [os repasses] comouma questão de direito, porque a exploração econômica da terra acontece emáreas muito próximas de onde eles vivem”, explica Reis. Ele informou que tambémestaria na pauta de reivindicações dos índios uma negociação com a mineradoraOnça Puma, subsidiária da Vale do Rio Doce que pretende se instalar na região.“A Onça Puma quer operar na área sem qualquer conversa com os índios. A empresadiz que a negociação sobre repasses já é feita com a Vale”. A Funai, noentanto, afirmou que por hora os índios pretendem negociar apenas a questão doaumento de repasses de recursos.A Companhia Vale do Rio Doce é uma das maiores empresas demineração e metais do mundo. Ela atua em 14 estados brasileirose em cinco continentes. A produção diária da empresa em Carajás é de250 mil toneladas de minério de ferro.