Lista permitirá ao país ter dados sobre doenças causadas pelo amianto, diz auditora

02/09/2006 - 18h02

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com o envio da lista dos trabalhadores expostos ao amianto aoSistema Único de Saúde (SUS) pelas empresas brasileiras, o país poderáter estatísticas oficiais sobre os casos de doenças provocadas pelasubstância, avalia a auditora fiscal do Ministério do Trabalho FernandaGiannasi. Fundadora da Associação das Vítimas do Amianto, ela coordenaum movimento pela proibição do amianto no país, iniciado há 21 anos.“Aimportância dessa portaria é que nós vamos ter a visibilidade dosdoentes no país”, destaca Giannasi, referindo-se à portaria assinadapelo ministro da Saúde, Agenor Ávares, determinando que as empresasdevem encaminhar a lista ao SUS anualmente, até o primeiro dia útil dejulho.Desde 1995, a utilização do amianto é proibida no Brasil.Com o Decreto n° 2.350, de 1997, ficou permitida a variedade conhecidacomo crisotila, desde que haja observância de normas para uso seguro doproduto. “O lobby, a bancada da crisotila, alega que não hádoentes no Brasil e conclui que por isso o amianto brasileiro faz bem àsaúde, diferente do que se conhece em toda a literatura médica; oBrasil é uma exceção. Mas, com essa portaria do Ministério da Saúde,finalmente vamos ter oficialmente dados que quantifiquem essa que échamada a catástrofe sanitária do século 20”, acrescenta Giannasi.Paraa auditora-fiscal, o ideal é que todas as variedades da substância,considerada cancerígena pela Organização Mundial de Saúde (OMS), fossemproibida no Brasil. Ela defende a aprovação de um projeto de lei sobreo assunto, em tramitação no Congresso Nacional. “Hoje temos acompleta convicção de que não há uso controlado, de que todas as formassão perigosas e de que mesmo as baixas concentrações, como temos nasfábricas, pelo menos nas mais organizadas, não garantem que ostrabalhadores não ficarão doentes”. Ela destaca que o amianto já foibanido em três estados brasileiros - Rio de Janeiro, Pernambuco e RioGrande do Sul - e em 20 cidades, principalmente na região Sudeste. De acordo com Fernanda Gianassi, o Brasil é o 4ª maiorprodutor mundial de amianto, só perdendo para Rússia, Cazaquistão eCanadá. “São 250 mil toneladas por ano processadas no Brasil”. Acrisotila é uma matéria-prima usada principalmente na indústria daconstrução civil. Ela diz que 70% das telhas produzidas no país são àbase dessa variedade de amianto. Segundo a auditora-fiscal,muitas empresas dispõem de tecnologias capazes de substituir acrisotila. No entanto, enquanto não há a proibição total, elascontinuam usando essa substância porque os custos são menores, afirmaGiannasi.