Indígenas do Xingu vão avaliar mobilização em Brasília contra construção de hidrelétrica

09/06/2006 - 14h25

Paula Catarina
Da Rádio Nacional da Amazônia

Brasília – Os cerca de 130 indígenas de várias etnias, do Parque Indígena do Xingu, de Mato Grosso, vieram para Brasília, sob a intermediação da Funai, pra conversar com diversas autoridades, principalmente do Ibama, Ministério do Meio Ambiente, do Ministério Público Federal e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Hoje (9), uma das lideranças indígenas, Pablo Kamaiúra, afirmou que o grupo vai aguardar a decisão da Justiça sobre o caso e debater com as etnias o próximos passos da mobilização.

Os indígenas são contra a construção da Pequena Central Hidrelétrica Paranatinga 2, que está sendo construída a apenas dois quilômetros da Reserva Ecológica Estadual do rio Culuene. No dia 31 de maio, 300 indígenas de dentro e de fora do Parque Indígena do Xingu ocuparam o trecho do rio Culuene, onde a barragem está sendo construída. Essa construção está sendo feita em local considerado sagrado para esses indígenas, pois lá foi realizado o primeiro Quarup, uma cerimônia que as tribos fazem homenagem a chefes mortos, e é realizada na estação seca. Além disso, os indígenas temem que a hidrelétrica prejudique a reprodução das espécies de peixes, seu principal hábito alimentar.

Após a ocupação da hidrelétrica, os indígenas conseguiram, na justiça local, interditar a obra. Mas essa interdição é provisória, porque cabe recurso contra a decisão e o Tribunal Regional Federal pode modificá-la. De acordo com o indígena do Parque Indígena do Xingu, Pablo Kamaiúra, a mobilização em Brasilia possibilitou audiências no Judiciário, com o deputado petista Eduardo Valverde e com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo.

"Nós viemos na tentativa de buscar essa solução. Mas até agora, na última reunião com o presidente da Câmara, nós não obtivemos a posição concreta da parte dele, ele não nos disse se iria apoiar a paralisação definitiva dessa obra. Nós demos um tempo para a Justiça resolver. Se for aplicado essa justiça ou não, aí o movimento vai tomar uma outra decisão, que a gente não tem aqui agora. Vamos ter que nos reunir depois de todas essas audiências, avaliar os resultados positivos, pra gente tomar uma outra decisão", disse.

Segundo o deputado federal Eduardo Valverde (PT-RO), essa situação gerou um conflito de interesses que precisa ser, de maneira cautelosa, dada uma solução. "São dois interesses que se conflitam: um que é da empresa em gerar energia elétrica com intuito lucrativo, de abastecer o sistema elétrico nacional e com isso oferecer a população energia elétrica mais barata; e o interesse dos povos indígenas, que podem ser afetados com essa construção, que são seus costumes, seus usos, suas tradições e sua base alimentar, que são bem desprotegidos pela Constituição Federal", completa.

Ontem (8), segundo o deputado, a reunião com Aldo não pode trazer grandes avanços para a reivindicação dos povos do Xingu. "O presidente disse ponderadamente que não tem como se posicionar. O que pode ser feito aqui na Câmara é a aceleração da aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas", disse.