Greenpeace denuncia plantações de soja como causa de desmatamento da Amazônia

07/04/2006 - 16h47

Juliana Andrade e Ivan Richard
Da Agência Brasil

Brasília - A expansão de plantações de soja é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia e representa a mais séria ameaça ao futuro da região. A conclusão está no relatório "Comendo a Amazônia", elaborado pela organização não-governamental Greenpeace Internacional, com sede na Holanda. De acordo com o estudo, na safra de 2004, cerca de 1,1 milhão de hectares de florestas foi convertido em plantações de soja.

Segundo a organização ambientalista, "as vilãs da indústria da soja brasileira" são três multinacionais norte-americanas do setor do agronegócio: a Cargill, a Bunge e a Archer Daniels Midland (ADM). O estudo relaciona as empresas ao desmatamento, à grilagem de terras e ao trabalho escravo na Amazônia.

"Essa expansão tem um preço não apenas para a floresta, mas para as populações indígenas e comunidades tradicionais, que são expulsas de suas terras para dar lugar à soja, e para milhões de pessoas que são enganadas e forçadas a trabalhar na derrubada da floresta", destaca a versão em português do relatório.

De acordo com o relatório, essas empresas "agem como imã para atrair novos produtores para a Amazônia". Além de serem grandes compradoras, as três empresas juntas são responsáveis por pelo menos 60% de todo o financiamento da produção de soja no país.

As multinacionais forneceriam desde sementes e fertilizantes até a infra-estrutura necessária ao armazenamento e transporte da soja. No caso da Cargill, por exemplo, o relatório mostra que, para facilitar o escoamento da produção, a empresa construiu um porto em Santarém, no valor de US$ 20 milhões. A organização ambientalista destaca que a obra foi feita sem que a multinacional realizasse os estudos de impacto ambiental previstos na Constituição brasileira e, por isso, foi questionada na Justiça pelo Ministério Público Federal em Santarém (PA).

"Elas [as empresas] não apenas impulsionam a expansão da soja, mas fecham também elos importantes na cadeia da destruição ilegal da floresta, grilagem de terras e trabalho escravo, tornando a soja produzida na Amazônia extremamente barata para consumidores europeus, e dispendiosa para todos os outros", conclui o texto.

O estudo também destaca que, nos últimos anos, o governo brasileiro adotou medidas importantes para combater o desmatamento na Amazônia e a exploração ilegal de madeira. Mas alerta que, ao mesmo tempo, o avanço da soja surgiu como uma "poderosa ameaça de destruição da floresta".

O relatório é resultado de uma investigação sigilosa feita durante dois anos, nas regiões de produção e consumo de soja. Foram feitas análises de imagens de satélite, investigações de campo, sobrevôos, entrevistas com comunidades afetadas e representantes da indústria e políticos e monitoramento de navios cujo destino era o mercado internacional.