Estudantes dizem que só deixarão ministério se governo adiar decisão sobre padrão digital da TV

09/03/2006 - 22h17

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Cerca de sessenta estudantes mineiros devem passar a noite na porta do Ministério das Comunicações. Eles protestam contra a decisão do governo brasileiro de escolher um sistema estrangeiro para digitalizar as televisões brasileiras. O anúncio do sistema escolhido – o americano, o europeu ou o japonês – está previsto para amanhã (10).

Os estudantes de engenharia de Telecomunicações do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) dizem que só saem de lá com o compromisso do governo, por escrito, de que a escolha será adiada. "A gente só sai daqui com o cancelamento da decisão de amanhã", diz um dos líderes da manifestação, Bruno Henriques, de 23 anos.

Eles reivindicam que a sociedade civil possa participar da decisão. "O que a gente quer é que o ministro Hélio Costa abra um debate, porque só conversando com as indústrias o interesse público não está incluído. O governo está querendo tomar essa decisão sem um debate democrático", afirma Bruno Henriques.

Os manifestantes afirmam também que, há dois anos, professores do Inatel – juntamente com outros 22 consórcios – desenvolveram um sistema brasileiro que substituiria a importação por uma tecnologia própria. Thiago Bastos, de 24 anos, conta que o governo federal já investiu cerca de R$ 50 milhões nas pesquisas, e o dinheiro será "jogado fora. Além disso, o sistema geraria menor custo que a importação e traria um grande impacto para o desenvolvimento tecnológico do país".

Segundo os estudantes, uma das vantagens do sistema brasileiro é que ele permite a criação de novos canais e, segundo Bastos, "regionaliza a televisão".

"É um sistema que funciona e que não é discutido nem conversado para que as pessoas tenham conhecimento, como se a gente tivesse atrasado tecnologicamente", afirma o líder estudantil.

O protesto começou hoje às 15h30. Os estudantes trouxeram um manifesto para entregar ao ministro Hélio Costa. A viagem durou 22 horas e, ao chegar, os estudantes foram informados de que o ministro não estava em Brasília. Eles não conseguiram ser recebidos por um representante do ministério, que não se pronunciou sobre o assunto.

Na chegada dos manifestantes houve tumulto com os seguranças do prédio. Os seguranças tentaram tirar os manifestantes à força. Sete estudantes, unidos por uma corrente de ferro, conseguiram entrar e se acorrentar pelo lado de dentro à porta central do ministério. "A nossa função é manter a ordem. Eles estão aqui na frente atrapalhando o serviço", afirmou João da Silva Couto, um dos responsáveis pela segurança do prédio. Bárbara Martins, uma das acorrentadas, conta que foram "bastante empurrados pelos seguranças, mas não houve violência".

O prédio permanecerá aberto durante a madrugada já que a porta não pode ser fechada. Um pelotão da Polícia Militar faz a segurança do prédio. Uma barricada foi montada para evitar que outros estudantes entrem. Os policiais também não permitem que água ou comida seja entregue aos acorrentados.

No fim da tarde, o Instituto enviou um comunicado à imprensa ressaltando que o protesto não estava sendo feito pelo órgão, mas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). Nesta segunda-feira, o ministro disse que os japoneses são os mais interessados em realizar parcerias com o Brasil, ao contrário dos americanos e europeus. Ontem (8), o presidente Lula negou que o governo já tenha decidido qual o padrão de TV digital que será adotado pelo Brasil.