Fórum precisa discutir relação com governos de esquerda, avalia militante

19/01/2006 - 6h47

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil

Brasília – "O Fórum Social Mundial, quando nasceu, era um espaço dos movimentos sociais, fora dos governos. Anos mais tarde, muitos desses militantes acabaram vinculados aos governos do continente". A nova situação é descrita por Pablo Solón, coordenador na Bolívia da Campanha contra a Área de Livre Comércio (Alca).

Para ele, alguns dos militantes aprofundaram o que haviam pregado no Fórum. Outros, ao contrário, mudaram seu discurso. Ainda assim, Sólon considera que o Fórum se manteve "como um espaço crítico", longe dos governos. "Mas, ao mesmo tempo, tem de dar respostas concretas ao fato de vários países latino-americanos conviverem com governos de esquerda", avalia, em entrevista por telefone à Agência Brasil.

Com essa nova situação, ele acredita que o "tema fundamental já não é a denúncia e, sim, o desenvolvimento de propostas e campanhas que aprofundem os avanços da esquerda". Sólon mesmo convive com essa questão em seu país. Foi um dos coordenadores da mobilização que resultou na lei para reverter a privatização de petróleo e gás na Bolívia. Ao seu lado, estava Evo Morales, hoje presidente eleito.

Sólon promete continuar pressionando o governo para tomar medidas que garantam o monopólio estatal das reservas de gás. Ele espera que os outros governos eleitos recentemente na América Latina, sigam suas promessas de mudança. "O exemplo que não devemos seguir é o do governo brasileiro", em que, segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedicou a "administrar o modelo neoliberal" e não fazer mudanças na economia.

O Fórum é o principal encontro da sociedade civil para discutir a luta pela democratização da política e da economia. O 6º Fórum Social Mundial traz uma novidade ao ser realizado, quase simultaneamente, em três continentes diferentes. Nas versões anteriores, o encontro aconteceu quatro vezes em Porto Alegre (2001, 2002, 2003 e 2005), intercalado por uma edição em Mumbai, cidade indiana antes conhecida como Bombaim.

Entre os dias 24 e 29 de janeiro, o Fórum será realizado em Caracas, capital venezuelana. Poucos dias antes, o encontro acontece em Bamako, capital de Mali, país no noroeste africano. Alguns meses depois, está programada a parte asiática do FSM, em Karachi, cidade paquistanesa.