Especial discute papel de multinacionais no bilionário negócio da soja brasileira

19/01/2006 - 6h51

Eduardo Mamcasz
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O agronegócio de soja, carro-chefe das exportações brasileiras, depende das decisões tomadas por apenas quatro grandes empresas multinacionais. Elas controlam o setor desde a venda da semente, passando pelo financiamento das máquinas e fertilizantes, até a definição do preço do grão, antes mesmo do plantio. Este é o tema debatido na reportagem de hoje no especial "Soja - um grande negócio", transmitido pela Rádio Nacional. O áudio de toda a série está disponível para uso público na página da Agência Brasil na internet.

Para o chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antonio Donizetti Beraldo, a "excessiva concentração" das multinacionais no setor de soja no Brasil afeta a rentabilidade da produção. Ele afirma que o produtor rural fica pressionado nas duas pontas, "tanto no momento da venda quanto no momento da compra", e garantiu que 84% das compras de soja no Brasil passam pelas "transnacionais".

O presidente da Associação Brasileira das Organizações não-Goveernamentais (Abong), Jorge Eduardo Durão, mostrou-se preocupado com o domínio dos estrangeiros em área "tão importante da nossa economia". Ele aconselhou que se apure, entre outras coisas, a razão de os maiores produtores de soja no estado do Mato Grosso serem empresas transnacionais.

De um modo geral, o negócio da soja no Brasil é dominado, nas diferentes fases do processo, por quatro tradings ou empresas multinacionais ou mesmo transnacionais, como são conhecidas. São as norte-americanas ADM e Cargill, a francesa Coimbra e a holandesa Bunge, esta há mais tempo no país, onde arrecada US$ 2,5 bilhões do total de US$ 8 bilhões que a soja movimenta no Brasil.

O secretário-geral da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, diverge dos que criticaram a concentração das multinacionais no setor de soja brasileira. Apesar de aceitar o fato, ele disse que as "gigantes da soja tornaram-se peça essencial para os produtores brasileiros".

Outro fato importante abordado na reportagem de hoje é o aumento dos custos e a baixa dos preços do grão no mercado internacional, tendência que vai se repetir neste ano, segundo o dirigente da CNA, Antonio Donizeti Beraldo. A questão também preocupa o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Speroto. Ele culpa a super-oferta momentânea de soja, no mundo, pela atual crise existente no setor.

Até a secretária da Coordenação da Amazônia no Ministério do Meio Ambiente, Muriel Saragoussi, lembra que, no ano passado, "foi aquela propaganda imensa de façam soja, façam soja". Após perguntar o que aconteceu passada a colheita, ela completa: "Nenhum deles vende agora a caminhonete que comprou um ano antes com o dinheiro da soja. Pelo contrário, está pedindo aos bancos - que financiaram sua produção - para adiar o pagamento de suas dívidas.