Pesquisadora afirma que mudança de nome reduziu preconceito contra hanseníase

31/12/2005 - 16h49

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O registro de casos de hanseníase aumentou nos últimos anos, o que pressupõe o aparecimento de mais casos da doença no país. Mas uma pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) afirma que isso não é necessariamente verdadeiro, porque o abandono do nome "lepra", na década de 70, e sua gradativa substituição pela palavra "hanseníase", teria reduzido o preconceito social existente sobre a enfermidade e fez com que as pessoas procurassem tratamento.

De acordo com a professora de Ciências da Saúde, da UnB, Maria Bernadete Moreira, muita gente não tem mais vergonha de aparecer como portador do bacilo de Hansen, que afeta principalmente a pele e os olhos. Segundo ela, 30 anos é um período historicamente curto, mas já se pode notar acentuada redução do preconceito em relação aos portadores de hanseníase, e as pessoas mais jovens aceitam melhor a convivência com os doentes.

A professora da UnB afirmou, em entrevista hoje (31) à Rádio Nacional AM, que muitas pessoas hoje nem sequer têm conhecimento da palavra "lepra" e do que ela significava em termos de preconceito. Não sabem, por exemplo, que até meados do século passado seus portadores eram obrigados a internações em leprosários, e as portas da sociedade se fechavam para elas.

Hoje é diferente, segundo Moreira. Além de a palavra "hanseníase" ter uma conotação menos forte e haver mais consciência de que a doença não é contagiosa pelo simples toque, como se imaginava antigamente, também é sabido que o tratamento adequado permite ao seu portador ter vida normal.

Ela reafirmou que as novas gerações tratam a hanseníase como se fosse uma doença nova: "O acolhimento social mudou, e hoje ela é tratada em casas de saúde. Seus portadores não se escondem mais, como antigamente, para fugirem do preconceito, e possivelmente isso explique o aumento no número de registros da doença".

A pesquisadora da UnB afirmou que "a mudança de nomes foi fundamental para quebrar preconceitos", mas admite que ainda existem dificuldades no relacionamento com pessoas de mais idade, e ainda há quem se afaste do portador de hanseníase. Ela disse que as campanhas nacionais do Ministério da Saúde têm contribuído para melhorar o quadro da doença no país, com o cantor Ney Matogrosso à frente do esforço de esclarecimento nacional.