CPIs sobrepõem trabalhos e repetem depoimentos sobre os mesmos assuntos

26/08/2005 - 8h00

Luciana Vasconcelos e Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A votação de requerimentos semelhantes em diferentes Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) provocou discussões na comissão que investiga denúncia de corrupção nos Correios. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), considera que há um equívoco por parte de outras comissões. Delcídio avalia que a comissão dos Correios investiga a origem dos recursos do empresário Marcos Valério, que poderiam ter abastecido o suposto esquema de mesadas a parlamentares, enquanto a da Compra de Votos deve apurar o destino desses recursos.

O senador afirma que há sobreposição dos trabalhos e, por isso, pretende conversar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com os presidentes de outras comissões parlamentares de inquérito. "A CPI dos Correios tem um foco claro que são os Correios e a movimentação financeira do senhor Marcos Valério, focada nas origens. E nós estamos vendo requerimentos sendo aprovados em outras CPIs que estão ligados às origens", disse.

O senador se refere à decisão da CPI dos Bingos, que aprovou a convocação do doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, e da CPI da Compra de Votos que vai ouvir o empresário José Carlos Batista, da Guaranhuns, na próxima terça-feira. A empresa Guaranhuns Empreendimentos foi utilizada, segundo Marcos Valério, para repassar parte dos recursos destinados ao PT. O doleiro Toninho da Barcelona, por sua vez, já foi ouvido por um grupo de membros da CPI dos Correios. Toninho disse aos parlamentares ter feito troca de dólares para integrantes do PT.

Além disso, duas comissões – dos Correios e da Compra de Votos – decidiram convocar Daniel Dantas, dono do banco Opportunity. A CPI da Compra de Votos quer ouvir na próxima quarta-feira os presidentes dos fundos de pensão, enquanto a CPI dos Correios já pediu a quebra de sigilo das aplicações no Banco Rural e BMG de outros sete fundos de pensão. Para Delcídio, os fundos de pensão devem ser investigados pela CPI dos Correios.

O relator da CPMI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), avalia que Renan Calheiros pode definir o papel de cada comissão. "O procedimento mais indicado é reunir os três presidentes das comissões para delimitar atribuições. Se não houver entendimento, é preciso que o Renan defina até onde cabe o quê e a quem".

Já Delcídio Amaral diz que a "desordem" pode atrapalhar as investigações. "Acho que algumas pessoas têm, efetivamente, interesse em que transformemos tudo em uma grande desordem. E aí ninguém vai ser punido".