Delcídio discutirá com Ministério da Justiça bloqueio das contas de Valério no exterior

11/08/2005 - 22h14

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), tem encontro agendado amanhã (12) com a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, para discutir mecanismos que permitam rastrear e bloquear contas do empresário Marcos Valério de Souza no exterior. O publicitário Duda Mendonça disse hoje (11) em depoimento à CPMI que recebeu R$ 10 milhões de Valério por meio de uma conta "off-shore" feita no paraíso fiscal das Bahamas.

Para o senador Delcídio Amaral, o depoimento de Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes vai "qualificar as investigações da CPMI". O presidente da comissão ressaltou que as reveleções feitas pelo publicitário, responsável por várias campanhas do PT nas eleições de 2002, inclusive a do presidente Luiz Inácio Lula da Sival, "saiu da mesmice dos depoimentos que vinham acontecendo. Era uma história muito bem contada que tinha começo, meio e fim. Agora, estamos vendo que não é como se falava", disse o senador petista.

Também nesta sexta-feira, Delcídio Amaral reunirá representantes da comissão para reavaliar o calendário de trabalhos da próxima semana diante das declarações feitas por Duda Mendonça. "Agora vamos cruzar as informações e avaliar o histórico delas, temos que ter cautela", afirmou o senador. Delcídio Amaral disse, ainda, que o depoimento espontâneo de Duda Mendonça à CPMI abre uma nova alternativa de investigação que é a remessa de recursos, ilegalmente, para o exterior.

No depoimento, o publicitário saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP). Segundo ele, em 2002, foi acertado com o PT um pacote nacional de campanhas eleitorais no valor de R$ 25 milhões, que incluíam as campanhas do presidente Lula, dos candidatos aos governos do Rio de Janeiro e de São Paulo, Benedita da Silva e José Genoíno, além dos candidatos ao senado nos dois estados.

O pagamento de R$ 10 milhões depositados no exterior por Marcos Valério foi parte desse pacote nacional. Duda Mendonça, no entanto, disse que as campanhas de Lula a presidente da República e a do senador Mercadante foram pagas com dinheiro oficial.

Ele justificou a decisão de comparecer espontaneamente à CPMI para explicar a origem dos recursos recebidos de Marcos Valério. "O Marcos Valério começou a me citar muito. A estratégia dele de se misturar comigo é interessante para ele, não para mim. Atacar quem está numa situação incômoda é fácil. É fácil dizer que o Duda Mendonça está mentindo, prova. Eu mostrei documentos", afirmou o publicitário citando os fax emitidos pela SMP&B para sua empresa avisando dos depósitos realizados na conta "off-shore" nas Bahamas.

Enquanto Duda Mendonça prestava seu depoimento na CPMI dos Correios um grupo de adolescentes com a bandeira da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) realizou uma rápida manifestação nos corredores do Senado, chamando a atenção de parlamentares, funcionários da Casa e jornalistas. Eles gritavam palavra de ordem contra o pagamento de mesada aos parlamentares e contra o governo.

Os cerca de 10 manifestantes estavam com o rosto pintado de verde e amarelo no estilo dos cara-pintadas que foram às ruas no início dos anos 90 contra o governo Collor.