Dirceu nega acusações de Jefferson e garante que não renunciará a mandato

03/08/2005 - 0h06

Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Em mais de sete horas de depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP) negou as acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que estaria diretamente envolvido no pagamento de mesadas a parlamentares do PP e do PL. Dirceu também negou que tenha favorecido empresas em licitações de estatais, enquanto esteve à frente da Casa Civil da Presidência da República, ou mesmo que tenha conhecimento dos empréstimos repassados pelo publicitário Marcos Valério ao Partido dos Trabalhadores (PT).

O ex-ministro da Casa Civil disse aos membros do Conselho de Ética que não está disposto a renunciar ao mandato de deputado federal diante das denúncias. "Não renuncio porque quero ter o direito de olhar no olho de cada militante do PT. Renunciar significa aceitar as denúncias que estão sendo colocadas. Provem primeiro, aqui eu quero julgamento. Mas não aceito ser pré-julgado e banido da vida política do Brasil. E não vou ser banido, mesmo que eu perca o meu mandato", enfatizou.

Dirceu afirmou que, mesmo diante do tratamento de "réu" que vem recebendo da imprensa e dos próprios parlamentares, não existe acusação formal que comprove o seu envolvimento em qualquer irregularidade. "A tentativa de me pré-julgar não me intimida e não vai me impedir de me defender", disse. O ex-ministro reconheceu que o PT cometeu erros ao receber recursos por meio de caixa dois (sem declará-los à Receita Federal) e defendeu a punição de todos os envolvidos. Mas deixou claro que não está disposto a responder por atos do partido, uma vez que não é integrante da Executiva Nacional do PT: "Eu sou responsável pelos meus atos como ministro e deputado. Não assumo atos da direção do PT porque não era membro, não participava das decisões. Não vou assumir responsabilidade pelos empréstimos feitos pelo partido".

O ex-ministro negou estar magoado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com a postura do Executivo depois que deixou a Casa Civil. E garantiu que, sob o comando de Lula, o governo federal vem combatendo a corrupção de forma enfática: "É um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção". Na avaliação de José Dirceu, a crise política deflagrada no país desde o final de maio não significa, na prática, que o Brasil esteja mergulhado em uma ampla crise. "Não há no país, além da crise política fruto das denúncias, uma crise. O país tem governo que está governando, e tem programas sociais e inovadores", defendeu.

Dirceu se colocou à disposição do Conselho de Ética e da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a compra de votos para esclarecer todas as denúncias. Segundo o ex-ministro, a CPI vai comprovar que ele não está envolvido no suposto mensalão. "Não organizei, não sou chefe, jamais permitiria compra de votos ou de parlamentares. Não é verdade que sou responsável pelo mensalão", enfatizou.

Sentado na primeira fila entre os integrantes do Conselho de Ética, o deputado Roberto Jefferson acompanhou a maior parte do depoimento de José Dirceu. Jefferson é réu no processo movido pelo Partido Liberal, que pede a cassação dele por quebra de decoro parlamentar. E como réu, tem direito de questionar as testemunhas que comparecem ao Conselho. Desta vez, aproveitou para acusar diretamente José Dirceu de ser o "operador" do mensalão.

Em tom irônico, disse a Dirceu que ele mentiu ao negar todas as denúncias. "Eu assumo tudo o que disse com risco pessoal, porque não conto mentiras, e reafirmo o que disse. O José Genoíno era o vice-presidente do PT. O presidente era o ministro José Dirceu", afirmou Jefferson.

Segundo o deputado petebista, Dirceu participou de várias negociações com o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, para captação de recursos ao partido: "Tudo o que tratávamos na sede do PT em Brasília tinha que ser homologado na Casa Civil". Roberto Jefferson cobrou do ex-ministro mais clareza em suas respostas: "Peço que Vossa Excelência não falseie mais, abra mão de ser o professor dessa escola de mentiras".

E rebateu as críticas de Dirceu sobre a sua decisão de não tornar pública para as esferas competentes de investigação a existência do suposto mensalão. Disse ter feito a denúncia do pagamento de mesadas a pelo menos cinco ministros: Ciro Gomes (Integração Nacional), Miro Teixeira (Comunicações), Antonio Palocci (Fazenda), Walfrido dos Mares Guia (Turismo), e ao próprio José Dirceu (então ministro da Casa Civil). "Por que eu fazia isso? Eu o fazia na crença de que estava dando contribuição a um governo que eu acreditava ético. Eu hoje não acredito mais", afirmou.

Ao final do depoimento, o relator Jairo Carneiro (PFL-BA), afirmou que diante das negativas do deputado José Dirceu, "falta alguma coisa" para que as denúncias sejam apuradas. "O depoimento refuta todas as denúncias que envolvem o deputado Dirceu. Mas ninguém em sã consciência acredita que ele esteja totalmente alheio aos fatos", disse. Na opinião do presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), o depoimento "foi um dos mais importantes já acolhidos pelo Conselho".