Soares diz que recebeu proposta de ''drenagem de recursos públicos'' de empresário

02/08/2005 - 15h25

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ex-secretário nacional de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, afirmou hoje (2), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que recebeu do empresário de jogos Sérgio Canozzi uma proposta de "drenagem de recursos públicos". A reunião teria ocorrido, segundo ele, em um hotel do Rio de Janeiro.

"As informações eram muitas - a respeito de diversas áreas do governo, como se houvesse, inclusive, um estudo profundo a respeito das possibilidades, de mecanismos que pudessem ser aplicados para que se drenassem os recursos", ressaltou.

Segundo Soares, Canozzi propôs um acordo para que parte da verba fosse repassada à governadora Benedita da Silva e sugeriu dividir parte dos recursos arrecadados. A perspectiva do empresário, conforme o ex-secretário de segurança pública, era arrecadar entre "R$ 80 a 100 milhões durante nove meses, com a mobilização da secretaria da Fazenda, de diretorias ligadas à área de arrecadação, da massa falida do Banerj e da secretaria de obras", disse Luiz Eduardo.

Por intermédio de Canozzi, Soares foi informado que Waldomiro Diniz estaria participando de um esquema ilegal de obtenção de recursos. Em seu depoimento, ele reproduziu o que teria dito o empresário: "veja o exemplo de Waldomiro: está aí em um esquema produzindo R$ 300 mil por mês para Zé Dirceu e para a candidatura no Rio de Janeiro. E isso é insuficiente. Com pouco mais de qualidade, com trabalho mais eficiente, pode-se ampliar e se chegar a R$ 500 mil por mês".

Essa seria uma das razões que justificariam, segundo Soares, sua "resistência" ao ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, exonerado do cargo após denúncias de corrupção. Na ocasião em que Canozzi fez a denúncia, o ex-secretário disse ter preferido não comunicar o fato ao Ministério Público ou à polícia porque não sabia se se tratava de uma proposta de corrupção ou de um ardil político com o objetivo de prejudicar sua campanha. Luiz Eduardo Soares foi candidato à vice-governador na chapa de Benedita da Silva.

Quando veio para o governo federal, Soares disse que, como não possuia provas contra Waldomiro, deixou suas suspeitas de lado, principalmente depois que ele foi nomeado assessor da Casa Civil.

"Zé Dirceu era autoritário, mas achava que era inteligente e incapaz de trazer para a Casa Civil alguém que efetivamente estivesse vinculado a práticas corruptas", declarou. "Só depois, quando a fita de vídeo foi exibida, reconheci que os indícios eram mais graves e efetivamente expressavam uma realidade".

De acordo com Soares, a operação de caixa de campanha que, segundo Canozzi, estaria sendo encabeçada por Waldomiro, não beneficiaria só o PT. "Ele ocupava uma posição de enclave, era a expressão de uma aliança entre o PT e Garotinho visando o segundo turno (das eleições presidenciais)", explicou o ex-secretário.