Política urbana só será percebida em dez anos, diz ex-secretária do Ministério das Cidades

31/07/2005 - 17h34

Carolina Pimentel e Juliana Andrade
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – A população deve perceber o impacto da política habitacional urbana somente daqui uma década. O alerta é da ex-secretária-executiva do Ministério das Cidades, Ermínia Maricato. "É importante que a sociedade brasileira saiba que antes de 10, 15 anos, não vamos ter um impacto significativo porque estamos com uma curva de crescimento de favela ascendente, de crescimento de moradias ilegais. Eu acho que em 20 anos a população irá sentir as mudanças, uma nova imagem se tudo isso for aplicado", disse.

Segundo ela, essa "nova imagem" significará o combate à "especulação de terras e imóveis no Brasil". "Com essa campanha do plano diretor no Brasil, todos estamos colocando em questão as propriedades vazias que estão no meio das cidades", afirmou. Maricato explicou que o plano diretor é que define o uso e a ocupação do solo urbano e deve ser elaborado pelos municípios. Àqueles com mais de 20 mil habitantes devem concluir o plano até outubro de 2006.

Ela destacou que o déficit habitacional brasileiro não será resolvido apenas com a construção casas. É preciso ter uma reforma fundiária, acesso ao transporte público, coleta de lixo, saneamento básico, escolas e postos de saúde, segundo a ex-secretária.

"A reforma fundiária é uma reforma de terra, quer dizer, não adianta um grande investimento se você não contrariar esse rumo de crescimento urbano que deixa muita terra vazia, ociosa. E muitas delas servidas de infra-estrutura. Pelo Brasil afora, tem chácaras com os arredores asfaltados, isso significa um patrimônio privado, mas sobre o qual, no seu entorno, foi investido muito recurso público, no asfalto, na iluminação pública, muitas vezes na água e no esgoto, na drenagem. Todo esse investimento público valoriza essa terra vazia, e onde vai morar a população pobre? Vai morar na periferia distante", acrescentou.