Trabalhadores rurais reunidos no congresso da Contag vão avaliar atuação do governo

02/03/2005 - 6h50

Paula Menna Barreto
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Durante os dias do 9º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), os participantes farão a avaliação conjuntural do atual governo. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o presidente da entidade, Manoel Santos, dá uma prévia do que será discutido, fala o que pensa a Confederação sobre o governo e afirma sua crença na reeleição de Lula.

Abr: O que o senhor espera do governo com relação a políticas rurais?
Manoel: Eu espero que o governo Lula primeiro continue tendo um processo de abertura, de relacionamento democrático. Que nós continuemos tendo essa oportunidade de cobrar que sempre tivemos. Ajudamos a eleger o governo, mas isso não representa nenhuma ambigüidade, nenhuma dependência do governo. Nossa avaliação é que temos feito o processo de defesa do governo naquilo que consideramos que ele acerta e temos criticado o que precisa melhorar. Temos cobrado com independência. Esperamos que o governo continue se esforçando para fortalecer essas políticas que são do interesse dos trabalhadores do campo. Além disso, que o governo possa, cada vez mais, se fortalecer do ponto de vista de suas articulações, pensando no futuro e viablizando o segundo mandato. Nós não temos muita dúvida de que se o governo Lula não der certo não é um problema simplesmente para o governo Lula, será um problema para o conjunto dos trabalhadores brasileiros.

Abr: O senhor acredita na possibilidade da reeleição do presidente Lula?
Manoel: Eu acredito na possibilidade de uma reeleição do presidente Lula. A não ser que aconteçam fenômenos e mudanças conjunturais que tragam desgaste para o governo. Acho que até aqui o quadro ainda se mantém com possibilidade do governo ser reeleito. Só o que depende é de fato fazer a devida costura, uma articulação que não seja como a que foi feita no caso da eleição do presidente da Câmara. Esse é um desafio para o governo e nós esperamos que ele resolva.

Abr: Sobre o país, qual é a sua avaliação?
Manoel: A situação do país, na nossa avaliação, primeiro é que na condição que o governo atual recebeu o Brasil - endividado, com o desemprego profundo, com um processo de privatização já construído e boa parte do patrimônio público já comprometido -, o governo não tinha muita perna para ir muito além do que foi. Acredito que o governo teve uma preocupação de manter o equilíbrio da economia e acho que teve um tratamento até extremamente severo do ponto de vista do aumento das taxas de juros, no que diz respeito às reservas cambiais, no que diz respeito ao conservadorismo que teve, no aumento do salário mínimo. Então, por força de uma realidade econômica, o governo fez esses encaminhamentos que não têm, de fato, levado efeitos positivos, sobretudo para as classes menos favorecidas do país.

ABr: Como assim?
Manoel: A necessidade do povo que passa fome. Do povo que, de fato, precisa de trabalho, de melhorar seu salário. É uma necessidade imediata e não temos como ficar esperando durante muito tempo. Entretanto, não achamos que o governo pudesse ter feito muito mais do que fez. É importante dizer que o programa, por exemplo, do Bolsa Família - que não é um programa que vai resolver o problema do desenvolvimento, mas para essas famílias que estão recebendo, pelo menos um pouco, estão comendo - é o maior já visto do governo federal. Mas é preciso fazer a revisão dos cadastros, porque muita gente que está hoje no programa não é, de fato, necessitada. Foram feitas inscrições com base num cadastro do governo passado e aí entrou gente de vereadores, esposa de vereador, entrou funcionário público e isso precisa ter uma correção.

O governo tem boa vontade, tem procurado preparar as bases para no futuro, para o país poder crescer. A prova disso é o inicio da geração de emprego, mesmo não sendo os 10 milhões que ele prometeu, mas todos os segmentos têm apontado aumento no processo da produção e do emprego. São coisas que eu acredito que mostram que o país entrou no caminho da mudança. O que precisa é que essas mudanças sejam cada vez mais aceleradas e que os pobres do Brasil possam ter maior acesso a elas.