Homossexuais fazem passeata em defesa de seus direitos

20/06/2004 - 19h09

Brasília, 20/06/2004 (Agência Brasil - ABr) - André, nome fictício, tem 15 anos e vive o conflito de em algum momento ter que revelar para a mãe, uma funcionária pública, a sua condição de homossexual. "Tenho certeza de que não será um momento fácil nem para mim nem para ela. Minha mãe é declaradamente homofóbica e vive me dizendo que quer do seu único filho homem atitudes masculinas, como ter muitas namoradas, casar e dar a ela
muitos netos".

Mesmo adotando gestos e dialeto próprios dos homossexuais, o rapaz diz ter certeza de que os pais nem desconfiam de que ele namora homens desde os 12 anos. "No começo sentia muito angústia porque queria namorar as meninas, mas só sentia desejo por meninos. Depois que assumi isso em mim, fiquei interiormente mais tranqüilo. Mas ainda me angustia não ter tido coragem de revelar para a minha família".

Coragem ele teve para se expor hoje na Esplanada dos Ministérios, onde participou da 7ª Parada do Orgulho Homossexual de Brasília reunindo lésbicas, gays, transgêneros, bissexuais e simpatlizantes. "Vim fazer volume nesta caminhada para pedir maior compreensão por parte da
sociedade", diz.

Como "André", centenas de jovens - alguns homossexuais, outros solidários – se misturaram a históricos defensores da causa, empunharam a bandeira do arco-íris ao som de canções
como "I Will Survive" e "It’s raining man".

A escolha do Congresso Nacional como cenário para a parada desse ano foi estratégica e teve como objetivo pedir dos parlamentares a aprovação do projeto de lei que regulamenta a
união civil entre pessoas do mesmo sexo. "Queremos que o projeto entre na pauta o mais rápido possível, porque é um direito que nós temos e seria uma demonstração de respeito
por parte do Congresso", diz Joelma Cesário, vice-presidente da Associação da Parada do Orgulho Homossexual, que organizou o evento, cujo tema é "Brasil, Respeite a sua Diversidade
Sexual".

Segundo a deputada Maria José Maninha (PT/DF), a única parlamentar presente na manifestação, se depender da atual legislatura o projeto não vai ser aprovado tão cedo. "Esse é
um projeto dos mais importantes da comunidade de homossexuais. No entanto, o conservadorismo do nosso Congresso Nacional não vai permitir a sua votação a curto prazo, porque toda as vezes que é suscitada a idéia da colocação do projeto em pauta, se levanta uma discussão tão intensa dos vários segmentos que se opõem, que a mesa diretora não acata a iniciativa de sua votação", comenta.

O bancário Luiz Eduardo Gerhardt, também foi à Esplanada pedir a aprovação do projeto. "É justo que a gente receba os mesmos direitos que um casal heterossexual recebe. Agora que
muitos casais têm conseguindo isso na Justiça, espero que não demorem a aprovar no Congresso", diz Gerhardt, que vive há cinco anos com o diplomata Paulo André Moraes de Lima, um dos históricos defensores da causa homossexual. Foi graças ao empenho de Paulo André, por exemplo, que a Radiobrás passou a reconhecer para os companheiros de funcionários homossexuais os mesmo benefícios dos cônjuges convencionais. "Muitas empresas privadas, sobretudo no exterior, já garantem igualdade de direitos. A Radiobras foi a primeira empresa pública a fazer isso e eu espero que não seja um caso isolado e que outras empresas venham a fazer o mesmo. Trata-se de uma jurisprudência que está sendo formada e espero que no futuro isso possa ser levado a todo o funcionalismo público", diz o diplomata.