As portas fechadas aos negros, tema de hoje do NBR Debate

16/05/2003 - 0h02

Brasília, 15/5/2003 (Agência Brasil - ABr) - As polêmicas cotas universitárias para negros foram adotadas, até agora, somente por duas universidades, uma no Rio de Janeiro e outra na Bahia. A questão não se resume em aumentar o número de negros nas universidades, alertou hoje a ministra da Secretaria de Especial de Políticas de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. "Também é importante aumentar a sua visibilidade", afirmou ao participar do NBR Debate, programa do canal de TV a cabo da Radiobrás.

A ministra, que considera as cotas universitárias "um resgate histórico das injustiças cometidas contra essa população", disse que muitos setores da sociedade têm resistido as cotas, com a argumentação de que o nível dos alunos cairia. "Muitos reitores esquecem que a entrada é facilitada, mas que o curso será igual para todos, e os beneficiados pelas cotas podem ser reprovados ou expulsos", afirmou.

Mas ela está otimista em relação aos rumos que a questão deve tomar, considerando que o atual governo já deu importantes passos para uma política de igualdade racial. "No dia 13 de maio, o presidente assinou uma portaria para criar um grupo de trabalho que em 6 meses elabore um programa para as comunidades quilombolas (descendentes de escravos)", lembrou. A própria criação da secretaria, que foi implantada no atual governo, é uma medida importante para melhorar a condição de vida da população negra, avaliou.

Outro participante do debate, o diretor do documentário "Negação do Brasil", Joel Zito Araújo, afirmou que a mídia brasileira é muito resistente à inclusão do negro na publicidade, em novelas e filmes. "Um mercado de mais de 5 milhões de negros de classe média, que não se vêem na televisão ou no cinema brasileiros", destacou. Ele observou que nos Estados Unidos a mídia se tornou muito mais multirracial devido a pressão de grupos étnicos.

O professor de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), José Jorge de Carvalho, mostrou outra porta fechada aos negros, o mundo acadêmico, o que, segundo ele, gera uma dificuldade de colocação no mercado do trabalho. "Temo um círculo vicioso. O negro não tem oportunidade, se volta para o crime e se afasta cada vez mais da chance de elevar seu nível social", resumiu.