Gutiérrez: expectativa popular é semelhante a do Brasil

14/01/2003 - 22h20

Brasília, 14/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - A expectativa em torno da posse de Lúcio Gutiérrez para a presidência do Equador nesta quarta-feira lembra em alguns aspectos o clima de esperança vivido no Brasil, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em outubro do ano passado. Eleito em 24 de novembro de 2002, com um percentual de votos semelhante ao do novo presidente brasileiro (54% do total de votos, enquanto Lula teve pouco mais de 56%), Gutiérrez também carrega nos ombros a espera por mudancas e dias melhores de grande parte da população equatoriana.

"A expectativa é grande, porque todos esperamos por grandes mudanças", explica o eletricista Davi Fuertes. Casado e sem filhos, o jovem é um dos equatorianos que se considera "abençoado" por ter um emprego formal. Mas ao contrário dos brasileiros, Fuertes não comemorou com festa a eleição, porque sabe que o futuro que está por vir é incerto.

Semelhanças e diferenças continuam. Enquanto no Brasil, Lula defendia a manutenção de contratos, o combate à fome e a realização de reformas constitucionais para assegurar equilíbrio às contas públicas e tranquilidade aos brasileiros, Gutiérrez baseou sua campanha na luta contra a corrupção, a redução da pobreza, investimentos em saúde, educação e a promoção das cinco seguridades (social, cidadã, jurídica, ecológica e alimentar).

A origem dos dois presidentes, no entanto, é distinta. O presidente metalúrgico Lula é conhecido no cenário internacional por ter chegado ao poder depois de quatro eleicões. Já o novo mandatário equatoriano tem origem nas Forças Armadas e apareceu no cenário nacional após um levante contra o ex-presidente Jamil Mahuad, em 21 de janeiro de 2000. Após alguns meses na prisão militar, o coronel Gutiérrez pediu baixa no Exército. Com apoio dos grupos indígenas e de seu braço político - Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik-Nuevo País ou MUPP-NP) - Gutiérrez chegou à presidência.

Assim como Lula, o desafio agora é garantir a governabilidade. Neste ponto, o brasileiro sai ganhando. O PT elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados e ainda não descartou as conversas com o PMDB para, junto com os demais partidos aliados, assegurar a maioria no Congresso. Já o partido de Gutiérrez, o Partido Social Patriótico (PSP), unido ao MUPP-NP, conta com apenas cinco votos do universo de 120 deputados do Congresso Unicameral equatoriano.

Ainda que tenha conseguido o apoio do Partido Roldocista Equatoriano (PRE), que conta com mais 25 deputados, Gutiérrez está longe de obter a maioria de votos para governar com tranquilidade. E ainda há os conflitos com o ex-presidente do Congresso, León Febres Cordero, do mais forte partido do país, o Partido Social Cristão (PSC). Há quem tema o risco de Gutiérrez não conseguir terminar seu mandato, mas ninguém declara o temor em voz alta.

Com 12,5 milhões de habitantes, o Equador tem uma dívida pública externa de mais US$ 12 bilhões, considerada a mais alta per capita da América Latina . A dolarização da economia no governo Mahuad não reduziu a dívida, ao contrário, prejudicou a balança de pagamentos porque reduziu as exportações. A balança comercial mantém-se deficitária e o déficit fiscal estimado de 2002 está na casa dos US$ 250 milhões. Somado a isso, os cálculos apontam que 70% a 80% dos equatorianos vivem em situação de pobreza, num país onde o salário mínimo é de US$ 130, mas os aluguéis de apartamentos de quarto e sala não ficam por menos de US$ 40 mensais.