Dieese: DF tem o maior número de negros em cargos de chefia

22/11/2002 - 17h01

Brasília, 22/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - No mês em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra (20), uma pesquisa confirma que os preconceitos de cor e pobreza levam os negros a terem os piores postos de trabalho, a maior proporção de desemprego e os mais baixos salários, quando comparados aos brancos do Brasil. É o que explicou Graça Ohana, socióloga e coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), em entrevista hoje, ao programa A Vez do Consumidor, na Rádio Nacional AM. Para tentar modificar esse quadro, ela defende a política de quotas - como a que prevê uma porcentagem para o ingresso de negros nas universidades.

No Distrito Federal, a pesquisa mostra que a presença de negros no mercado de trabalho, com idade igual ou superior a 40 anos, chega a 61,2%. E que a cada cem negros na força de trabalho, 23 estão desempregados. A situação dos negros também é desfavorável quanto às possibilidades de crescimento profissional. A maior proporção de negros em cargos de direção e chefia está no Distrito Federal (12,7%), onde há presença reforçada do setor público. A menor presença de negros em cargos de chefia encontra-se em São Paulo (4,4%).

Entre os motivos dos salários dos negros serem mais baixos que dos brancos, a coordenadora acredita que "os negros não têm tanto acesso à educação superior quanto os brancos". Outro ponto seria, segundo ela, a origem do capitalismo "de que a riqueza está na mão de poucos e que os muitos pobres são de negros ou indígenas".

De acordo com dados da pesquisa, os negros se inserem no mercado de trabalho com mais precariedade que os não-negros. A população negra estaria presente em maior proporção nos postos de trabalho mais vulneráveis, tanto assalariados quanto sem carteira de trabalho assinada. Como é o caso de autônomos que trabalham para o público, trabalhadores familiares não remunerados e, principalmente, as mulheres que trabalham como empregadas domésticas.
Essa característica é mais acentuada em Recife e Salvador, e se apresenta com menor intensidade no Distrito Federal e Porto Alegre.

"Os diferenciais nos rendimentos entre negros e não negros, por sua vez, revelam-se na ponta mais visível e incontestável da presença do racismo no mercado de trabalho urbano do país", traz o boletim. Os pretos e pardos (os negros) receberiam metade do rendimento dos brancos e ocupam, na maioria das vezes, funções nos ramos agrícola, na construção civil e na prestação de serviços.

A pesquisa foi realizada por meio de convênio entre o Dieese e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, além de instituições e governos locais em seis regiões do país. Ela pode ser lida no boletim A Desigualdade Racial no Mercado de Trabalho, que está disponível no endereço eletrônico www.dieese.org.br.