Brasília, 23 (Agência Brasil - ABr/CNN) - O Departamento de Estado norte-americano anunciou que suspenderá a contribuição de US$ 34 milhões para os programas de planejamento familiar da Organização das Nações Unidas, alegando que esses estariam financiando políticas "coercitivas" de aborto na China. "Apesar de os norte-americanos terem diferentes opiniões sobre a questão do aborto, acredito que todos concordamos que nenhuma mulher deve ser obrigada a se submeter a tal prática", afirmou Richard Boucher, o porta-voz do Departamento de Estado. As informações são da CNN.
"Após uma cuidadosa análise da lei e de todas as informações disponíveis, incluindo o relatório de uma equipe que enviamos à China em maio, chegamos à conclusão de que as verbas do Fundo de População da ONU (UNFPA) vão para agências chinesas que implementam programas coercitivos", acrescentou o porta-voz.
As verbas para planejamento familiar e saúde reprodutiva serão gastas pelos programas da Agência para Desenvolvimento Internacional, dos Estados Unidos. "Os US$ 34 milhões que reservamos para o Fundo de População da ONU, com a aprovação do Congresso, serão gastos pelos programas de população do Child Survival and Health Program Fund, dos Estados Unidos", declarou.
A equipe de investigação enviada pelo Governo Bush à China declarou não ter encontrado provas que vinculassem as Nações Unidas a esterilizações ou abortos forçados. Uma delegação da Grã-Bretanha que também esteve no país no início deste ano disse não ter provas de que verbas dos Estados Unidos estariam sendo usadas com essa finalidade.
O porta-voz do Fundo de População da ONU, Sterling Scruggs, refutou veementemente as acusações. "Eu sei que nós não estamos apoiando coerção. Não consigo acreditar que alguém possa pensar que estamos", afirmou. "Ninguém nega que há problemas na China, mas nós estamos trabalhando com o governo chinês para que seus programas sejam implementados em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos".
Scruggs afirmou que os 34 milhões de dólares poderiam evitar dois milhões de gestações indesejadas, 800 mil abortos, a morte de 4.700 mulheres, mil óbitos de bebês e crianças e um número incalculável de novos casos de contaminação pelo HIV.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse, antes do anúncio do Departamento de Estado, que estava decepcionado com a decisão do governo norte-americano. "Nós deixamos claro que a agência não incentiva a prática de abortos", ressaltou. "A agência dá boa orientação às mulheres na área da saúde reprodutiva, e faz um trabalho muito bom em todo o mundo, inclusive na China", observou. Annan disse esperar que a decisão seja reconsiderada no futuro "quando os fatos forem esclarecidos".
A contribuição dos Estados Unidos representa 12,5% de todo o orçamento do UNFPA. Annan afirmou que o trabalho da agência na China e em outras partes do mundo seria afetado pelo corte no financiamento.