Brasília, 14 (Agência Brasil - ABr) - A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras enviará um comitê ao Brasil em agosto, para pedir maior empenho nas investigações sobre crimes contra jornalistas. A entidade, que não tem fins lucrativos, pretende visitar primeiramente a Bahia, onde ocorreu um grande número de mortes na década de 90.
Profissionais de imprensa no Brasil e no mundo ainda alertam que o jornalismo tornou-se uma profissão de alto risco. Para o jornalista José Hamilton Ribeiro, que tem mais de 40 anos de profissão e experiência em cobertura de guerra, o pior risco não acontece durante a luta armada, mas nas ruas de grandes centros urbanos. José Hamilton ganhou fama internacional quando perdeu uma perna ao cobrir a guerra do Viet Nam para a extinta revista Realidade.
"Correspondentes de guerra trabalham em situações perigosas, mas sabem que por trás de tudo existem governos, pessoas que querem o fim do conflito. Já na violência das cidades, nas guerrilhas urbanas, o repórter fica exposto a bandidos, sem escrúpulos ou compromissos éticos", explica. Exemplo disso foi o assassinato do jornalista Tim Lopes, executado há mais de um mês, por traficantes, quando trabalhava em uma reportagem sobre bailes funk no Rio de Janeiro. Até hoje, o principal suspeito, o traficante Elias Maluco, não foi preso.
De acordo com um levantamento da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), foram registrados no país, entre 1988 e 2001, 242 casos de assassinatos de jornalistas. José Hamilton diz, ainda, que novos repórteres estão sendo formados, dispostos a enfrentar riscos para fazer matérias investigativas e de denúncia.
"Se não temos mais pessoas como Tim Lopes nas ruas, não é por medo. É porque as empresas de comunicação estão liberando menos esse tipo de reportagem, já que envolve muitos custos".
Organismos internacionais, como o Comitê para Proteção dos Jornalistas, a Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (Unesco) e a Sociedade Interamericana de Imprensa brigam, agora, tanto para a diminuição da violência contra jornalistas quanto para acabar com a impunidade dos crimes. Segundo dados da Unesco, em todo o mundo, 95% dos ataques contra esses profissionais continuam sem solução.