Pesquisas com a flora brasileira são destaque no primeiro dia da SBPC

08/07/2002 - 16h10

Pesquisas com a flora brasileira são destaque no primeiro dia da SBPC

Goiânia, 8 (Agência Brasil - ABr) - No primeiro dia da reunião da SBPC que na sua 54ª edição tem por tema central "Ciência e Universidade Rompendo Fronteiras", exemplos da pesquisa realizada no Centro-Oeste puderam ser conferidos em algumas conferências. Uma delas foi a do professor Ionizete da Silva, do Departamento de Microbiologia, Imunologia, Parasitologia e Patologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), que desenvolve pesquisas com plantas do cerrado para o controle do mosquito da dengue.

Há mais de cinco anos estudando espécies para o controle de vetores de doenças, Ionizete verificou atividade antilarvicida em duas plantas que ocorrem com certa facilidade no cerrado: a Magonia pubecens, vulgarmente conhecida como um tipo de Tingui, e a copaíba tanto a Copaiba langsdorf, como a Copaíba reticulata.

Com os estudos toxicológicos das espécies terminados, o pesquisador destaca o grande potencial de eliminação dos vetores, mesmo em pequenas quantidades, das espécies. "Com 80 partes por milhão (ppm) – 1 litro de substância extraída da planta, para um milhão de litros de água – da magonia conseguimos eliminar totalmente as larvas do mosquito no local onde a solução será depositada", exemplifica.

Outra vantagem das plantas pesquisadas, ressalta Ionizete, é a facilidade com que elas se reproduzem e são encontradas no cerrado. "Não há risco de extinção das espécies pela coleta de material", garante ele.

A próxima etapa do estudo será o desenvolvimento de um adulticida, inseticida a ser usado na eliminação do mosquito adulto, para ser pulverizado pelos equipamentos Ultra Baixa Volume (UBV), que, segundo Ionizete, são erroneamente denominados como fumacê. "Nos fumacês há queima de óleo diesel e portanto produção de material poluente. Os carros que percorrem as cidades utilizam o sistema UBV onde o larvicida é misturado a óleo vegetal para que, pela queima e pela fumaça, seja aplicado em determinada região visando a eliminação do Aedes aegipty", explica.

A patente do larvicida está sendo formulada e deverá ser requerida em breve. De acotrdo com o professor, já há um laboratório interessado em comercializar o produto.

Outra pesquisa da UFG foi apresentada dentro do Ciclo Temático: Por uma Agricultura Sustentável, pelo professor Lázaro José Chaves, da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos. Sua pesquisa é sobre a domesticação e o uso de espécies frutíferas nativas do cerrado. Conforme Chaves, a maioria das espécies hoje utilizadas como alimento foram domésticas há séculos, sofrendo desde então apenas melhorias de cultivares. "Hoje, cerca de 90% da produção de alimentos está concentrada em quize espécies (arroz, trigo, milho, soja, sorgo, cevada, cana-de-açúcar, beterrada, feijão, amendoim, batata, batata-doce, mandioca, coco e banana), todas com alto grau de especialização, mas há outras espécies que podem ser utilizadas comercialmente", diz o pesquisador.

Dentre as espécies nativas do Centro-Oeste, ele destaca o pequi (Caryocar brasiliense Camb), fruto característico da culinária goiana que pode ser consumido in natura ou utilizado como condimento. Também com potencial para exploração estariam o araticum, cagaita, pera-do-cerrado. "Apesar da soja e das braquiárias serem as principais fontes de rendas da agricultura do Cerrado, é possível a convivência dessas culturas com outras de espécies nativas", analisa Chaves.

Ainda dentro do ciclo temático que analisou as plantas e animais para o futuro, o pesquisador da Embrapa Floresta, no Paraná, Paulo Ernani Ramalho Carvalho, falou sobre o plantio de árvores brasileiras com fins comerciais.

Segundo Carvalho, o Brasil não aproveita sua grande diversidade de espécies arbóreas com crescimento rápido. "Temos pelo menos treze espécies de árvores que produzem pelo menos 8m³ de madeira, em cerca de dez anos, e quando há plantio só encontramos pinus e eucalipto, espécies exóticas com potencial inferior", assinala.

Para algumas dessas espécies nacionais, afirma ele, já foram identificadas aplicações imediatas e muitos países já importam sementes para plantio. "Os franceses estão comprando cerca de 100 toneladas de semente da Aroeira pimenteira para plantio numa colônia do Pacífico para utilização em substituição à pimenta, já que a árvore tem características parecidas a do tempero", justifica.
Outros países, acrescenta Carvalho, já se antecipando ao colapso no fornecimento mundial de madeiras previsto para 2006, estão preservando suas florestas e importando madeira do Brasil.

A reunião da SBPC vai até 6ª feira (12) e a previsão é de que 8 mil pessoas circulem, nesse período, pelo campus da UFG. (Hebert França)