FHC critica mercado e cobra ação mais efetiva dos organismos internacionais

20/08/2002 - 22h55

Montevidéu, 20 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso marcou sua presença no Uruguai, no primeiro dia de visita oficial ao país, com dois discursos tecendo críticas severas ao mercado financeiro e à falta de uma ação precisa dos organismos financeiros internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), em socorrer os países vítimas da ganância dos especuladores. A criação da Área de Livre Comércio da Américas (Alca) e a integração do Mercosul com a União Européia (UE) também foram alvos de considerações do presidente.

Ao falar na Assembléia Geral do Uruguai, sede do poder Legislativo, Fernando responsabilizou o comportamento dos mercados pela crise nos países em desenvolvimento, enfatizando a situação vivida neste momento pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, parceiros do Mercosul.

"O momento internacional causa inquietação. O mercado talvez jamais se tenha comportado de forma tão contrária a seus próprios interesses, ignorando os fundamentos econômicos, gerando falsas expectativas. Mas os surtos de insensatez, sobretudo no mundo dos negócios, costuma ter fôlego curto", disse o presidente.

Já na sede da Associação Latino-Americana para o Desenvolvimento e Integração (Aladi), Fernando Henrique defendeu uma reformulação, urgente, do FMI e do Bird, os quais, em sua avaliação, não estão mais capacitados, por conta da necessidade de um redesenho do papel que devem desempenhar no mundo globalizado, a agir prontamente em socorro dos países em desenvolvimento e em situação intermediária - entre ricos e pobres -, como está posicionado o Brasil.

"Os países de porte intermediário são os que mais sofrem no momento, porque eles não têm as mesmas capacidades de reação dos ricos e não têm as defesas, e é melhor não tê-las mesmo, dos que não estão dentro do fluxo financeiro. Estamos dentro do fluxo financeiro, e estamos nos molhando e sem termos guarda-chuva. Estamos atravessando momentos que requerem um pensamento novo para enfrentar essa questão", afirmou diante dos doze embaixadores dos países que integram a Aladi.

Segundo o presidente, algum mecanismo novo tem que ser criado no mundo para evitar a instabilidade econômica global. Tentativas nesse sentido já foram ensaiadas pelos ministros da Fazenda e pelos presidentes do Bancos centrais do G-20, grupo de países também integrado pelo Brasil, mas elas não foram suficientes, avaliou.

"Não dispomos de instituições capazes de atuar com anterioridade, que prevêem, tenham uma previsão suficiente para evitar de imediato que a turbulência possa ocorrer. E isso é grave. Todavia, temos hospitais. O Fundo Monetário Internacional é um hospital. Em certos momentos ele é útil, como foi em 1999 no caso do Brasil, e em outros casos, como agora, não tem atuado com a rapidez necessária, nem tem sido capaz de entender a situação local", afirmou, exemplificando a situação brasileira, que teve o apoio do FMI somente quando a crise já estava instalada no país.

A questão da formação da Alca e a integração do Mercosul com a UE foi outro tema que marcou a passagem de Fernando Henrique pela Assembléia Geral do Uruguai e na Aladi, locais em que foi aplaudido seguidamente, de pé, por deputados, senadores e pelos embaixadores do organismo de integração comercial dos países da América Latina.

O presidente foi taxativo ao afirmar que o Brasil e seus parceiros do Mercosul - Argentina, Uruguai e Paraguai -, não irão aceitar uma negociação que não seja equilibrada e que não atenda o interesse de todos os envolvidos no processo. "A posição do governo brasileiro é clara: a Alca somente será atraente se assegurar benefícios equilibrados a todo o hemisfério, o que implica maior acesso aos mercados mais influentes. Sem isso, como afirmei em Québec, a Alca torna-se irrelevante ou perde sua razão de ser".

Fernando Henrique deixou clara a posição do bloco do Cone Sul sobre as negociações que estão em andamento. "Tenho a convicção de que saberemos negociar, defendendo nossos interesses, sem esquecer que o futuro depende de maior acesso aos grandes mercados do mundo". Sobre os negócios com a UE, a condição é de que haja reciprocidade entre os dois blocos econômicos: "A integração comercial dos dois blocos somente nos parece aceitável se facilitar o acesso de nossos produtos ao mercado agrícola europeu. Algo conseguimos, em outro setor, no acordo sobre têxteis. Há, portanto, razões para esperança", frisou.