FHC considera desnecessário diploma para ser presidente da República

20/09/2002 - 21h10

Barcarena (PA), 20 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso não considera essencial a posse de um diploma de nível superior para que um candidato assuma a Presidência da República. Em entrevista hoje neste município, após inaugurar o linhão de transmissão de energia elétrica Tucuruí-Vila do Conde, Fernando Henrique disse que o que importa é a capacidade do candidato: "Tem que ter competência", assinalou numa referência às críticas que o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, à sua sucessão vem sofrendo por não ter curso superior.

"O presidente tem é que ter competência, capacidade de resolver questões, estar preparado para resolvê-las. Tem gente que passou pela universidade, tem gente que não. Tem gente que passou e não está preparado e tem gente que não passou e está preparado. Isto eu acho que as pessoas têm que avaliar em função da pessoa e não em função de títulos. Se for por títulos, faz-se um concurso na universidade", opinou.

Segundo o presidente, os eleitores é que têm que avaliar as condições dos candidatos, levando em conta suas propostas de governo e o nível de responsabilidade que os postulantes ao cargo apresentam para dirigir ao país. Perguntado por um repórter como seria sua relação com Lula, caso ele vença as eleições de outubro, Fernando Henrique adiantou que pretende promover uma transição tranqüila e com respeito ao voto popular.

"É uma coisa da democracia. Eu sou presidente de todos os brasileiros. Eleito o novo presidente, eu vou conviver com ele como todos os brasileiros. Seja quem vencer, eu vou levar essa transição com o máximo de respeito ao voto popular e com o máximo de empenho, e que o novo presidente se aproprie, entenda os problemas todos que estão existindo, e vamos passar todas as informações para que ele possa atuar bem", frisou.

Ao explicar aos jornalistas a referência feita por ele ao PT, no discurso durante a cerimônia de inauguração do linhão de transmissão, na subestação de Linha do Conde, quando comentou o programa eleitoral do partido apresentado na TV, ontem à noite, Fernando Henrique disse que gostou dos comentários feitos sobre o trabalho desenvolvido pelo seu governo.

"Eu agradeci ao PT por ter divulgado as ações do governo. Gostei muito. Agradeci, chamei a atenção, fizemos tantas obras que somou". No discurso, Fernando Henrique disse que o governo fez muitas obras que serviram de modelo para alguns governadores e prefeitos petistas. "Fizemos tanto, que eu fiquei muito satisfeito ontem ao ver o programa de televisão do PT, que tomou de empréstimo todas as obras federais e distribuiu pelas prefeituras e pelos estados comandados pelo partido. Quando as pessoas se apropriam do que é bom, a gente tem que zelar pelo que é bom e ficar satisfeito. É sábio. Político não tem que esperar agradecimento, político tem ficar com sua consciência tranqüila e ter feito o que é necessário pelo Brasil".

O presidente aproveitou ainda a entrevista para reclamar do nervosismo do mercado financeiro, agitado por conta da proximidade das eleições presidenciais. "Acho lamentável que fique essa tensão pré-eleitoral. Os candidatos já declararam que vão ser fiéis aos compromissos assumidos pelo atual governo, até porque souberam antes que iríamos assumir o compromisso", salientou, em relação ao acordo firmado recentemente com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ele completou com mais ênfase: "Não vejo razão para essa inquietação. Mas eu não tenho um tostão na bolsa, nem dólares, de forma que eu não posso fazer nada pessoalmente". Segundo o presidente, o governo tem recebido manifestações de credibilidade de organismos financeiros internacionais pela forma como está controlando a crise econômica. "O governo fez o que pôde. Nós temos credibilidade, temos todas as declarações do mundo inteiro, que mostram que o Brasil tem seus fundamentos econômicos em ordem. Agora eu não posso impedir que as pessoas comecem a especular. Eu não tenho meios para isso".