Tombamento pode trazer recursos para restaurar Edifício A Noite, dizem especialistas

03/04/2013 - 7h35

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Tanto o arquiteto Marcio Roiter quanto o historiador Milton Teixeira apostam na inserção do Edifício A Noite no processo de revitalização da zona portuária do Rio, que resgatará a Praça Mauá como cartão de visitas da cidade. “O tombamento possibilita a obtenção de recursos para a restauração do prédio e dificulta qualquer tentativa de alterar suas características”, destaca Teixeira.

Para o historiador, o edifício será na Praça Mauá um contraponto interessante ao Museu de Arte do Rio (MAR), ao futuro Museu do Amanhã e ao próprio Centro Empresarial RB1, edifício no estilo pós-moderno e informatizado construído em 1998. “Todos eles e a própria praça representam momentos de nossa história em que procuramos mostrar ao mundo do que somos capazes”.

Roiter frisa que a modernização deve adaptar o prédio às exigências atuais, mas restaurando as características originais do estilo art déco. “Com o passar dos anos, foram feitas modificações que retiraram, por exemplo, o ar majestoso do andar térreo, e isso precisa ser revisto. O retrofit (modernização dos equipamentos) é a solução para que os imóveis antigos continuem existindo, mas adaptados às condições atuais, como o barulho que vem da rua. As janelas, por exemplo, têm que ser trocadas, as partes hidráulica e elétrica precisam ser renovadas”.

O Instituto Art Déco, que o arquiteto preside, é sempre solicitado para dar consultoria nos casos de retrofit dos prédio do estilo. “Não somos puristas a ponto de não concordar com a troca de uma esquadria por um tipo mais moderno, que assegure maior proteção contra o ruído”, explica Marcio Roiter.

O estilo art déco, que tem no Edifício A Noite um de seus ícones, está presente no Rio de Janeiro em cerca de 400 prédios, 100 deles apenas no bairro de Copacabana. É um dos maiores conjuntos de edifícios residenciais, comerciais e casas particulares nesse estilo do planeta. “O art déco já está próximo de fazer 100 anos, mas ainda é visto como recente. Não se olha para ele com o mesmo respeito com que é vista uma construção barroca, colonial ou neoclássica. Isso é um erro, porque o estilo representa o advento da modernidade, o princípio de tudo o que vivemos hoje na arquitetura”, defende Roiter.

Para ele, não se deve esquecer o maior monumento do mundo no estilo art déco. “Está ali no alto do Corcovado, abençoando a todos nós: o Cristo Redentor, de autoria do arquiteto brasileiro Heitor da Silva Costa e do escultor francês Paul Landowski. Esse é mais um motivo para cuidarmos bem desse patrimônio”, lembra o arquiteto.

Empenhada há anos no processo de tombamento, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem planos de implantar no prédio um museu vinculado à história da Rádio Nacional. “Com isso, teremos na Praça Mauá um projeto universal - o Museu do Amanhã, o MAR, que é a memória e o presente iconográficos do Rio de Janeiro, e o museu que é vontade da EBC e que seria a memória do rádio. Assim como a Cinelândia [onde se localizam o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal], a Praça Mauá abrigaria elementos culturais significativos”, diz Cristiano Menezes, gerente regional das rádios EBC no Rio de Janeiro.

Edição: Tereza Barbosa

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