Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Desde sua inauguração, o Edifício A Noite tornou-se um endereço disputado por empresas e profissionais liberais de renome para instalar seus escritórios, entre o sexto e o 18º andares, os que não eram ocupados pelo jornal ou pela rádio. Grandes bancas de advocacia, companhias aéreas e marítimas, como a Moore McCormack, tinham seus escritórios lá, assim como a Lojas Americanas. Esse perfil só foi mudado a partir dos anos 1960, quando o prédio passou a abrigar, além da rádio, somente órgãos federais, como o então Ministério da Indústria e Comércio e, posteriormente, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
Funcionário da Rádio Nacional desde os anos 50, o radioator e apresentador Gerdal dos Santos testemunhou essa diversidade anterior. “Era uma convivência muito rica, a começar pelo pessoal do jornal A Noite, que também editava três revistas – Noite Ilustrada, Carioca e Vamos Ler –, além de livros. Havia muitos advogados e até uma escola funcionava em um dos andares. O prédio respirava cultura e educação”, recorda.
“Ocupar uma sala ou um conjunto de salas no A Noite era um símbolo de status para uma empresa ou um profissional liberal. Era um endereço muito cobiçado”, afirma o arquiteto Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil, que há anos defende o tombamento do edifício.
“O prédio chegou a abrigar o escritório de arquitetura do Lucio Costa, quando ele se associou ao russo naturalizado brasileiro Grigori Warchavik e essa dupla foi responsável ali por obras de capital importância no início da arquitetura moderna. Só esse fato já justificaria a preservação do edifício”, diz o arquiteto.
Para Roiter, poucos prédios na cidade se mantiveram tão notadamente art déco. Ele considera o edifício a grande realização do arquiteto Joseph Gire, que também projetou, entre outros prédios importantes na cidade, os hotéis Copacabana Palace e Glória e a Estação Marítima de Passageiros, localizada a 100 metros do A Noite.
“O francês Gire já era um arquiteto famoso quando veio para o Rio contratado pela família Guinle. Até então, a cidade tinha prédios em torno de oito a dez, 12 andares no máximo, como os primeiros edifícios residenciais de Copacabana”, conta o presidente do Instituto Art Déco Brasil. Ligado ao prédio desde a infância, Marcio Roiter atribui ao Edifício A Noite o início de sua paixão pelo estilo art déco.
“Eu tinha 5 anos e entrava lá pelas mãos da minha mãe, a professora Maria de Lourdes Alves, que dirigia o programa Clube Juvenil Toddy, apresentado nas tardes de quinta-feira na Rádio Nacional. Eu olhava aquela construção e achava tudo fantástico, desde os letreiros aos cromados, o luxo que vinha dessa modernidade. A criança levada que eu era ficava quieta, extasiada, olhando para tudo quando entrava naquele prédio”, conta.
Edição: Tereza Barbosa
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