No alvará, todas as agremiações se chamam Grêmio Recreativo Escola de Samba

10/02/2013 - 16h55

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Mangueira, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Mocidade Independente de Padre Miguel. Tenha a importância, a tradição ou o nome que tiver, todas as agremiações carnavalescas cariocas são, antes, Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES). A padronização da nomenclatura surgiu em 1935, quando as escolas foram obrigadas a tirar alvará na Delegacia de Costumes e Diversões para poder desfilar no carnaval.

Conta a história que o delegado Dulcídio Gonçalves, decidido a dar um aspecto de maior organização aos desfiles das escolas de samba, negou-se a conceder o alvará a associações com nomes considerados esdrúxulos. Essa foi a razão de a Portela ter de abandonar o nome pelo qual era conhecida: Vai Como Pode. Para registrar as escolas, os seus representantes precisavam ir aos distritos policiais existentes na época e conversar com os delegados

Segundo o jornalista, radialista e especialista em carnaval, Rubens Confete, o surgimento das escolas de samba decorreu da necessidade de o negro se inserir na sociedade, o que, por falta de opção, se dava na época a partir do samba. Para ele, o sambista é, acima de tudo, uma consequência da necessidade de inserção social do negro. Paulo da Portela, que nasceu na zona portuária, já em 1923 ia para Madureira – na zona norte da cidade - buscando a sociabilidade.

A denominação escola de samba surge mais ou menos no início dos anos 1930. Nessa época, o sambista Ismael Silva, cantava no bairro do Estácio, na região central do Rio, ao lado de um estabelecimento de ensino. Ele já pertencia à Deixa Falar, hoje Estácio de Sá, e deduziu que se a Escola Normal formava professores, a Deixa Falar formava professores do samba.

É por essa razão que, vários historiadores consideram a Estácio de Sá, criada por Ismael Silva, a primeira escola de samba do carnaval do Rio. Criada no fim da década de 1920, ela foi formada inicialmente por um grupo de amigos, dentre eles Pixinguinha, que se reuniam periodicamente nos bares ou em casas de amigos no bairro do Estácio.

A moda pegou e, a partir daí, os blocos e as escolas de samba, sob a forma de agremiações, se espalharam por todo o Rio. No carnaval, elas se concentravam, principalmente na Praça Onze e na Cidade Nova. O local chegou a ser considerado o berço do carnaval carioca e foi tema do samba enredo da Salgueiro em 1970, Praça Onze, Carioca da Gema. A partir da metade dos anos 1950, esses grupos começaram a se fundir, formando organizações cada vez maiores e a adquirir uma estrutura administrativa mais rígida, com diretores, conselheiros, tesoureiros e secretários.

Para o jornalista Rubens Confete, no entanto, a história de que a Deixa Falar foi a primeira escola de samba do Rio é “meio confusa”. Ele discorda que a primeira escola de samba tenha nascido no Estácio.

“Era um grupo de samba que já havia e que se autodenominou escola de samba. Mas o samba não nasceu no Estácio. Nasceu na zona portuária, ali naquela 'pequena África'. Ali é que se dava o grande movimento do samba”.

Segundo Confete, “a verdade do samba é que ele vem já desde o século 19 com Hilário Jovino, um músico pernambucano com passagem pela Bahia e que se radicou na zona portuária e saía com os amigos para fazer samba, e também choro, nas casas da cidade. E daí ele cria, aí sim, o primeiro embrião de escola de samba”.

Segundo o radialista, havia uma tradição folclórica de ranchos pastoris, “que era aquela coisa do profano-sagrado”, que louvavam os reis magos, e Jovino transforma isso em um rancho carnavalesco.

“E a prova disso é que as primeiras escolas de samba se chamavam As Mulheres de Pastoras – minhas pastoras. E foi ele que criou isso, o primeiro embrião de escola de samba que, a despeito de tenderem para o samba, ainda eram à época bastante europeizadas”. Segundo Confete, foram essas agremiações que se transformaram ao longo dos anos até se tornar as agremiações carnavalescas de hoje.

Naquela época, já existia a separação de funções nas escolas: compositores, instrumentistas, sambistas e dançarinas (que eram chamadas de pastoras). As mulheres se fantasiavam de baianas (foi daí que surgiu a ala das baianas, hoje obrigatória nos desfiles). Os homens, por sua vez, usavam camisas listradas e chapéus de palha, inspirados em capoeiristas da época – figurino que foi imortalizado como a típica imagem do malandro carioca.

Um levantamento mais apurado sobre a evolução dos desfiles de carnaval nos remete à segunda metade do dos anos 1950, quando os diversos grupos existentes começaram a se fundir, se transformando em organizações cada vez maiores.

Confete lembra que as competições tiveram origem incentivadas pelo jornal O Mundo Esportivo, de propriedade de Mário Rodrigues, pai de Nélson Rodrigues e de Mário Filho. “Foi ele que criou os primeiros concursos e, aí sim, pode-se dizer que surgiu a Deixa Falar, hoje Estácio de Sá, considerada a primeira escola de samba da história do carnaval do Rio. Depois vieram as outras, como a Mangueira e a Portela”.

Edição: Tereza Barbosa

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