Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Andreia de Deus, de 39 anos, talvez não tivesse a menor ideia de que sua vida teria uma reviravolta quando, em uma viagem para o Paraguai, foi presa pelas autoridades daquele país. Desempregada havia muitos anos, a professora havia aceitado participar de um esquema de contrabando de armas e munições do país vizinho para o Brasil, para sustentar os dois filhos.
“Tinha dois filhos pequenos e passava por dificuldades. Acabei fazendo besteira, até para ter uma renda. Infelizmente, acabei presa e meus filhos ficaram espalhados [com a irmã e uma vizinha]. Foi uma situação horrível, mas deu para aprender”, disse.
Condenada a seis anos e nove meses de prisão, ela ficou oito meses presa em uma cadeia no Sul do país. Depois, ainda ficou mais dois anos no regime semiaberto e outros dois, em regime aberto. Mas o caminho de volta ao convívio social não foi fácil.
“Eu procurei emprego apenas uma vez e foi uma experiência péssima. Quando disse que estava em prisão domiciliar, a pessoa falou que infelizmente não poderia me empregar, porque eu poderia afligir os funcionários e causar problemas. E ela não me deu o emprego”, disse.
Com dificuldades em arrumar emprego na iniciativa privada, Andreia teve que continuar trabalhando na Fundação Santa Cabrini, órgão estadual voltado para ajudar presos e ex-detentos a arrumar emprego, que já havia a ajudado desde quando ainda cumpria pena.
“Quando você fala que saiu do presídio, as pessoas já pensam que você é burro e não é confiável. Ninguém nunca imagina que aquele preso um dia teve uma formação, que teve um deslize, mas quer mudar. A primeira coisa que pensam é discriminar. 'Será que ele não vai voltar a roubar?'”, lamenta a ex-presa, que sonha em se tornar assistente social.
Edição: Juliana Andrade