Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A transferência de membros do crime organizado de São Paulo para presídios federais deverá ser uma das ofertas do Ministério da Justiça para o governo estadual para conter a onda de violência no estado. Uma parceria entre as duas esferas de governo foi acertada na última quinta-feira (1), quando a presidenta Dilma Rousseff telefonou para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para oferecer apoio para conter a onda de assassinatos que tem vitimado policiais e civis.
Desde o início do ano foram mortos 90 policiais militares no estado, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública. O último caso aconteceu na noite de ontem (3) na zona norte da capital. Uma policial de 44 anos foi assassinada com vários tiros enquanto abria o portão de casa. O caso está sob investigação da Policia Civil. A capital paulista registra um aumento de 22% nos homicídios entre janeiro e setembro, com 982 vítimas. Somente em setembro foram 135 casos, um aumento de 96% em comparação ao mesmo mês de 2011.
O acordo entre as duas esferas veio após uma série de críticas mútuas entre a Secretaria de Estado de Segurança Pública e o Ministério da Justiça. Na nota divulgada pelo ministério sobre as discussões envolvendo a possibilidade de ajuda ao governo estadual é enfatizada a oferta de vagas em presídios federais para abrigar líderes de organizações criminosas. Para o órgão federal, essas pessoas podem estar “de dentro de presídios estaduais” comandando as ações do crime organizado.
A proposta vai ao encontro à hipótese defendida por especialistas em segurança pública ouvidos pela Agência Brasil ao longo dos últimos dias de que o crescimento da violência no estado é fruto da guerra entre a Polícia Militar e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A facção criminosa que atua dentro dos presídios paulistas comandou uma série de ataques à polícia e à população civil em 2006.
A transferência dos criminosos repetiria a estratégia usada contra o crime organizado no Rio de Janeiro. Importantes líderes criminosos do Rio, como Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, foram enviados ao presídio federal de Catanduvas (PR). Existem outras três unidades de segurança máxima federais, como a de Catanduvas, no país, todas com capacidade para 208 presos. Nesses presídios os detentos são isolados e vigiados por câmeras de segurança 24 horas por dia.
O governador Geraldo Alckmin não descartou ainda a possibilidade de São Paulo receber apoio de contingente da Força Nacional. “O governo federal tem recursos do fundo penitenciário, tem recursos do fundo de segurança, tem a Força Nacional de que, aliás, São Paulo participa: quando houve a operação da Força Nacional em Alagoas, nós mandamos helicóptero, mandamos força policial para ajudar”, disse ao participar da inauguração de um santuário na zona sul da capital.
Adoção de estratégias que já foram utilizadas em outros estados é a linha proposta pelo governo federal, como destaca a nota do Ministério da Justiça. “A proposta de apoio consistiu na elaboração de um plano conjunto de ações voltadas ao combate do crime organizado e da criminalidade violenta, a exemplo do que vem sendo executado por outros estados brasileiros, como o Rio de Janeiro e Alagoas, cujos índices de criminalidade, nas áreas focadas, reduziram-se drasticamente”, diz o comunicado.
Edição: Fábio Massalli