Luciene Cruz
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A adesão oficial da Venezuela no Mercosul, marcada para o dia 31 de julho, tem gerado muita expectativa. Benefícios no intercâmbio comercial são esperados por Brasil, Uruguai e Argentina. No entanto, a persistência da crise econômica pode atrasar essas vantagens.
Para o professor e autor do livro Comércio Internacional e Legislação Aduaneira, Rodrigo Luz, o atual momento de instabilidade financeira deve ser levado em consideração. “A Venezuela está em crise e isso leva a um protecionismo maior. Quando decidiram entrar no Mercosul, estavam em um momento melhor. Talvez o ânimo tenha diminuído no quesito de derrubar barreiras, o que pode gerar atrasos nos destravamentos comerciais”, analisou.
Um dos maiores interesses do governo brasileiro é a aplicação da tarifa externa comum (TEC) pelo governo venezuelano. Os sócios do bloco têm direito a um número limitado de produtos com tarifas reduzidas. A lista deve ser de 200 itens com taxas menores de importação, com isso, quem está dentro do Mercosul tem vantagem para vender, o que garante acesso de novos exportadores. No entanto, a Venezuela ainda não informou até o momento como irá cumprir os compromissos com o bloco.
O presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex), da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, avalia com cautela a entrada do novo membro. “A Venezuela precisa cumprir o protocolo de adesão, para o Brasil ter efeitos positivos comercialmente. Resta saber quando será cumprido, pode ser rápido ou levar anos”, explica. Segundo ele, ainda não é possível vislumbrar os efeitos das destravações comerciais para o Brasil.
A entrada de um novo membro também traz à tona a discussão da realização de novos acordos bilaterais. No entanto, como toda decisão no Mercosul precisa ser tomada em consenso, ainda há incertezas do apoio do novo sócio aos ideais brasileiros, que por exemplo, sempre acalentou um acordo Mercosul-União Europeia.
Na avaliação do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, se depender da pretensão do governo venezuelano, o acordo pleiteado será apenas utópico. “A visão de mundo da Venezuela é limitada, o que vai dificultar acordos bilaterais. Conseguir unanimidade entre cinco países [quando acabar a suspensão do Paraguai] vai ser ainda mais difícil. A Venezuela pode se tornar um complicador a mais”, declarou.
E é essa exigência de consenso que dificulta a tomada de decisões no bloco. Luz ressaltou que o Brasil ganha com um novo mercado, mas ao mesmo tempo perde com negociações emperradas com o resto do mundo. Para ele, com negociações travadas, pode ser que a conta não seja positiva, já que a regra do Mercosul é só negociar em conjunto.
Edição: Fernando Fraga