Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mesmo com a economia em ritmo mais lento este ano, o emprego no país não deve ser afetado, com exceção do setor industrial, na avaliação de especialistas. Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Júlio Gomes de Almeida, o crescimento econômico vem deixando a desejar há três trimestres. “A perspectiva é que melhore, mas ainda assim não deve ser nada de excepcional”, diz. Segundo ele, o crescimento menor da economia decorre, principalmente, do setor industrial, que enfrenta a concorrência dos produtos importados.
Para Almeida, a recente alta do dólar ajuda a aumentar competitividade da indústria brasileira. Mas a situação econômica incerta de outros países faz com que se queira vender mais produtos para o Brasil. “A desvalorização do real ajuda a produção no Brasil e defende da concorrência. Por outro lado, a concorrência estrangeira também aumenta. A venda dos produtos para a gente ficou mais cara, mas estão dispostos a fazer sacrifícios para vender para o Brasil, porque não têm mercado alternativo. Tem efeito bom para a nossa economia e nossa indústria, mas esse efeito diminui em função da situação externa que se agravou, diz Almeida”.
De acordo com ele, o emprego no país não foi afetado porque, apesar dos problemas na indústria, o setor de serviços continua crescendo e gerando vagas. Já no setor industrial, deve continuar a haver perdas de vagas.
Para o coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Armando Castelar, só há riscos para a geração de emprego no país com um cenário da construção civil em desaceleração, a indústria fraca e a redução de investimentos ligados às exportações permanecer no curto prazo.
Além disso, segundo Castelar, como as empresas enfrentaram dificuldades para contratar mão de obra qualificada, agora evitam demitir. “Há receio de que tenham dificuldades para achar trabalhadores novamente”.
Além de os trabalhadores não terem que enfrentar aumento do desemprego, a inflação deve permanecer sob controle este ano, na avaliação dos economistas. “Não vejo sinal de que a inflação aumente porque o nível de atividade está baixo. Com esse nível de atividade, as empresas relutam em remarcar preços. Por outro lado, os preços de muitas commodities [produtos primários com cotação internacional] que o Brasil exporta estão em declínio no mercado mundial. Aqui dentro também não há impacto desses preços”, analisa Almeida.
Para Almeida, ainda falta ao país desindexar preços e tarifas, como de alugueis corrigidos por índices de inflação, para que em momentos de ritmo maior de crescimento não se tenha inflação em alta. “É preciso desindexar a economia. Isso dá uma inércia na inflação [processo inflacionário gerado pelo reajuste de preços, de acordo com a inflação do período anterior]. Por outro lado, nosso crescimento demandou muita gente no setor de serviços, com aumento dos rendimentos, impactando a inflação”, destaca.
Além da realimentação dos preços pela inflação passada, Castelar também explica que a alta dos preços vem das expectativas dos empresários. Segundo ele, como o país tem inflação, em média, acima de 5,5% nos últimos anos, é difícil reduzir os preços.
“Neste ano, a população não vai sofrer uma perda de emprego, nem ser prejudicada pela inflação, mas será afetada um pouco pela redução do crédito”, conclui Almeida. Segundo ele, há receio das instituições financeiras em conceder crédito no atual momento econômico, mas a oferta deverá ser retomada no final do ano.
A economia em ritmo mais lento tem levado à revisão das estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O Banco Central (BC) revisou a projeção para este ano de 3,5% para 2,5%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também reduziu a estimativa de expansão do PIB, de 3% para 2,1%. A projeção de analistas de instituições financeiras consultados pelo BC todas as semanas já foi revisada para baixo dez vezes seguidas e está em 1,9%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também revisou a estimativa para baixo, de 3% para 2,5%.
Edição: Fernando Fraga