Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) fez a exumação de dois restos mortais na região dos estados do Tocantins e do Pará durante a última expedição, que ocorreu entre os dias 10 e 20 de junho. Os despojos foram transportados de Marabá (PA) para Brasília, onde serão periciados. Desde a década de 1991, ocorrem exumações, tendo sido encontrados 19 restos mortais até agora.
O primeiro resto mortal encontrado este mês foi retirado do cemitério de Xambioá, em Tocantins, e o segundo, da área conhecida como Abóbora, situada no município de São Geraldo do Araguaia, no Pará. Segundo o coordenador do GTA pelo Ministério da Defesa, Sávio Andrade, os restos mortais vão passar por uma análise inicial do Instituto Médico-Legal e do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília.
Os despojos passarão por exames antropométricos e por extração de DNA. Após a perícia, eles serão armazenados no Hospital Universitário de Brasília, onde estão os outros restos mortais encontrados pelo grupo. Para Sávio Andrade, no entanto, a identificação dos restos mortais encontrados na região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia ainda é um desafio, pois faltam instrumentos precisos para fazer o reconhecimento com base no banco de DNA de Mortos e Desaparecidos Políticos brasileiros.
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a identificação dos restos mortais encontrados é lenta, apesar de o Brasil dispor de tecnologia compatível com a dos melhores laboratórios do mundo. Segundo a pasta, o avançado estágio de degradação do material orgânico dificulta a extração de DNA e, assim, a identificação dos perfis genéticos.
O banco de amostras de material genético de parentes de desaparecidos políticos foi criado em 2006. O trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos da SDH concentrou-se, inicialmente, na obtenção de amostras de DNA dos desaparecidos da guerrilha. Partiu-se, portanto, dos desaparecidos do Araguaia que ainda não dispunham de amostra. As últimas coletas realizadas referem-se àqueles parentes com quem foi possível estabelecer contato e que aceitaram fazer a doação de amostra de material genético.
A secretaria informou que o Banco de DNA de parentes de desaparecidos da guerrilha que aceitaram doar amostra de material genético está completo. Além desses, existem os parentes dos demais desaparecidos políticos brasileiros, cujo processo de coleta de material continua em curso.
Em 2009, a juíza da 1ª Vara Federal do Distrito Federal Solange Salgado determinou que o governo federal reiniciasse as buscas na região. Para cumprir a determinação judicial, o Ministério da Defesa criou o Grupo de Trabalho Tocantins (GTT) com o objetivo de localizar, recolher e identificar os restos mortais de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia.
Em 2011, o grupo foi reformulado e ampliado e passou a ser conhecido como Grupo de Trabalho Araguaia. A coordenação é feita conjuntamente pelo Ministério da Defesa, o Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos. Parentes dos mortos e desaparecidos da guerrilha e representantes do Ministério Público Federal (MPF) também acompanham os trabalhos.
A primeira expedição deste ano já ocorreu. De acordo com Sávio Andrade, foram feitas escavações e reconhecimentos em Xambioá (Tocantins) e em São Geraldo do Araguaia (Pará). As atividades do grupo devem ser retomadas no próximo dia 8. “Além desses dois municípios, temos atividades para desenvolver em Marabá (Pará). O planejamento específico ainda não foi definido”.
A Guerrilha do Araguaia foi um movimento político no começo da década de 1970, que surgiu para enfrentar a ditadura militar. Até hoje, dezenas de participantes do movimento estão desaparecidos.
Edição: Graça Adjuto//Matéria alterada às 14h43 do dia 3/7/2012 para esclarecimento de informação