Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Depois de um ciclo de estagnação, com crescimento de apenas 0,1% em 2011, a produção industrial brasileira iniciou 2012 em retração, com queda contínua das vendas internas e externas, com reflexos na baixa geração de emprego e renda do setor. Por isso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) resolveu fazer uma campanha nacional de esclarecimento da população sobre os gargalos que dificultam a reativação industrial do país.
A intenção, de acordo com o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, é chamar a atenção para problemas antigos que asfixiam o setor. A começar pelos altos custos decorrentes da carga tributária, da precária infraestrutura de transportes e logística em geral, bem como dos entraves da legislação trabalhista, entre outros, que colocam as empresas nacionais em “desvantagem diante dos competidores estrangeiros”, segundo ele.
Essa é a tônica da campanha iniciada esta semana, que será veiculada, durante um mês, em jornais, revistas, televisão e na internet, segundo a gerente de Publicidade da CNI, Carla Gonçalves. Ela destacou que a sociedade precisa saber, por exemplo, que a alta carga de impostos é o maior componente na formação de preços, "e tudo isso tem a ver com o cidadão, que é quem, em última análise, paga a conta”.
Com o slogan “A Indústria Tem Pressa, o Brasil não Pode Esperar”, empresários ressaltam a carência de políticas abrangentes de apoio à indústria em geral, e não apenas a desoneração fiscal para alguns setores como veículos e eletrodomésticos da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar e outros). Eles sugerem mudanças urgentes no sistema tributário e na legislação trabalhista, além de advertirem para a necessidade de mais investimentos em educação, em infraestrutura logística e de transportes, em inovação e na redução da burocracia.
São carências que precisam ser corrigidas para “destravar as dificuldades estruturais”, de acordo com o gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato Fonseca. Ele entende que o crescimento sustentável só é possível quando se tem uma indústria dinâmica que movimente toda a cadeia produtiva, gere emprego e renda e estimule o comércio e o setor de serviços.
Na década de 80, a indústria brasileira chegou a ter participação de 46% na formação do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas no país. Esse percentual caiu para 26%, em média, nos últimos anos, segundo Fonseca, tanto pela perda do poder de competitividade com os preços internacionais quanto pelo forte crescimento do setor de serviços.
Queda semelhante ocorreu também na pauta de produtos exportados, de acordo com estatística do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A venda de produtos manufaturados foi, durante alguns anos, o principal vetor das exportações brasileiras, com participação recorde de 55,1% no total das vendas externas em 2005. Mas, de lá para cá, os produtos industriais perderam terreno, de modo a garantir participação de apenas 36,1% no ano passado.
Análise técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) assinada por Fernanda de Negri e Gustavo Varela Alvarenga destaca, no entanto, que alguns fatores contribuíram para a redução. A principal delas foi a demanda chinesa por minérios para sustentar o forte crescimento do país asiático, a partir de 2006. Tanto que as exportações brasileiras de produtos básicos aumentaram sua participação nas vendas ao exterior de 29,3% para 47,8% no mesmo período.
Do total de exportações do Brasil em 2011, 17,3% foram minérios, principalmente ferro e aço. A seguir, vêm petróleo e lubrificantes (12,1%), material de transportes (9,8%), complexo soja (9,4%), produtos metalúrgicos (6,8%), açúcar e etanol (6,4%), químicos (6,3%), carnes (6%), máquinas e equipamentos (4,1%), café (3,4%), papel e celulose (2,8%), equipamentos elétricos (1,9%), calçados e couro 1,4%), têxteis (1,2%) e metais e pedras preciosas (1,2%).
A crise financeira internacional de 2008 também contribuiu para a inversão da participação de produtos industriais nas exportações, uma vez que os maiores consumidores das manufaturas brasileiras, os Estados Unidos e a Europa, foram os que mais sofreram os efeitos e até hoje não se recuperaram devidamente, segundo Renato Fonseca. Ele lembra que outro tradicional comprador de manufaturados, a Argentina, também enfrenta problemas na economia.
A soma desses problemas está na raiz da redução das exportações de produtos industriais, destacou o gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, assim como a recente defasagem cambial, ora corrigida.
Edição: Juliana Andrade