Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O nome Bolhas Coloridas parecia perfeito para uma fábrica de sabão com óleo de cozinha reciclado, recolhido entre os próprios moradores da comunidade. Conscientizar os vizinhos e desenvolver um negócio ambientalmente sustentável eram alguns dos desafios de seis moradoras da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, quando abriram o empreendimento, em maio de 2011.
Um ano e quatro sócias remanescentes depois, a fábrica artesanal já recolheu na comunidade cerca de 5 mil litros de óleo de cozinha que, de outro modo, seriam despejados na rede doméstica para acabar na Bacia de Jacarepaguá, poluindo o meio ambiente. Além de sabão em barra e detergente, a pequena fábrica produz também sabonetes e sais de banho à base de glicerina.
Uma das sócias do empreendimento, Gleice Abreu, 24 anos, explicou que a distribuição de panfletos sobre os efeitos nocivos do óleo nos rios e no solo foi fundamental para que a fábrica conseguisse doadores. Entretanto, de início, não foi fácil. “Demorou até as pessoas da nossa comunidade acreditarem e mudarem os hábitos”, explicou.
A paciência das sócias e a convicção de que estavam no caminho certo valeu a pena. “Hoje, vêm adultos, crianças, lanchonetes, restaurantes, todos entregando seu óleo de cozinha em garrafas ou chamando a gente para buscar, quando se trata de grande quantidade”.
O óleo recebido é peneirado para retirar restos de fritura e impurezas. A fábrica só não aproveita o óleo usado para fritura de peixe, que é descartado devido ao seu forte odor. A fábrica, porém, não joga o material no ambiente, colocando em galões destinados à empresa de coleta de lixo. A preocupação ecológica também está nas embalagens, feitas de material reciclado.
As garrafas PET recebidas com o óleo de cozinha também têm destino certo. As empreendedoras possuem parceria com uma cooperativa de catadores da própria comunidade, que reaproveita vidro, plástico, papéis e outros materiais recicláveis.
Os produtos são vendidos para a comunidade pela metade do preço dos similares encontrados no mercado. “Os sabonetes são feitos sob encomenda e cobramos a partir de R$ 3. E temos capacidade de fazer 1.200 sabões por dia. Cobramos R$ 1 cada”, contou Gleise.
Graças ao sucesso, as sócias já planejam ampliar a fábrica. “Estamos a todo o vapor e fabricando cada vez mais. Vamos precisar de um espaço maior e de mais mão de obra, de preferência de mulheres”, comentou Gleice.
A fábrica faz parte do Projeto Elas em Movimento, que investe em empreendedorismo de mulheres de baixa renda das comunidades do Rio que receberam unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A iniciativa é patrocinada pelo Fundo de Investimento Social Elas (voltado para a promoção do protagonismo de meninas, jovens e mulheres) e pela empresa Chevron Brasil Petróleo.
Após aparecer nas telas dos cinemas em filme homônimo, a Cidade de Deus ficou mundialmente conhecida como uma área pobre e violenta, dominada pelo tráfico de drogas. Há três anos e meio, no entanto, a comunidade possui uma UPP e recebeu equipamentos sociais e pavimentação, mas problemas como saneamento básico e desemprego ainda são realidades na comunidade.
“Acho que nossa experiência serve de exemplo para as pessoas, principalmente para as mulheres daqui, de que é possível construir nosso presente e nosso futuro cuidando do meio ambiente”, analisou a jovem empreendedora.
Edição: Davi Oliveira