Nova exposição reorganiza Pinacoteca de São Paulo para contar história da arte brasileira

30/10/2011 - 17h36

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Uma nova disposição do espaço interno da Pinacoteca do Estado de São Paulo permite o acesso do público às sacadas do edifício, de onde se avista a Estação da Luz, terminal ferroviário construído no século 19. Os visitantes da nova exposição de longa duração da Pinacoteca – Arte no Brasil – já podem desfrutar dessa vista. Para chegar à varanda, eles passam por uma sala com sofás e almofadas projetada para que possam relaxar um pouco.

Segundo Giancarlo Hannud, pesquisador da Pinacoteca, a pausa para descanso e reflexão faz parte do processo de apreciação da arte. “A arte demanda um certo tempo, tem que dar um certo tempo para que ela possa fazer o trabalho dela”, ressaltou.

O espaço foi reorganizado para permitir que as cerca de 500 obras do acervo da Pinacoteca que estão expostas em 11 salas mostrem a trajetória da arte no Brasil até as primeiras décadas do século 20, explicou Hannud. “[A mostra] foi organizada de maneira que as pessoas possam entender as transformações e os desenvolvimentos que a arte sofre”, acrescentou o pesquisador.

A ideia é reforçada pelos textos explicativos que acompanham as obras. Com isso, além de ver A Dama, obra de 1906 de Georgina Albuquerque (1885-1962), o público poderá avaliar a contribuição da pintora para a inclusão da mulher no mundo artístico. “Ela foi a primeira diretora mulher da Escola Nacional de Belas Artes. Quando ela começou, era impossível pensar isso. Depois, quando estava no fim da carreira, dirigiu a mais importante instituição de arte no Brasil”, disse o pesquisador.

Focado no contexto histórico, o roteiro da mostra não deixa de lado as obras mais conhecidas e admiradas pelo público. “As obras mais importantes e queridas do público continuam expostas”, garante Hannud, ao passar diante do quadro Saudade, de Almeida Júnior. O texto que explica a obra diz que a figura da moça vestida de negro, que chora ao olhar uma foto, faz lembrar a morte trágica do pintor. Envolvido com uma mulher casada, Almeida Júnior (1850-1899) acabou assassinado pelo marido traído.

Porém, antes de morrer, o artista ajudou, assim como o escritor Monteiro Lobato (1882-1948), a consagrar no imaginário popular a figura do caipira. “Pensar na ideia do caipira sem pensar no Almeida Júnior é difícil”, ressalta Hannud, ao falar sobre os trabalhos da última ala da exposição, Um Imaginário Paulista, na qual podem ser vistas obras de Lasar Segall (1891-1957) e Candido Portinari (1903-1962), como o famoso Mestiço. O quadro, que retrata um mulato com as unhas sujas do trabalho com a enxada, foi comprado, um ano depois de pronto, por indicação do escritor Mário de Andrade, que, à época (1934), era membro do Conselho de Orientação Artística do Estado.

Edição: Nádia Franco