Colombianos que vivem em Brasília evitam falar sobre violência retratada por Botero em exposição

03/04/2011 - 13h41

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília – Alguns colombianos que vivem na capital federal têm dificuldade de falar sobre a exposição do pintor e escultor Fernando Botero pelo fato de as obras ali mostradas evocarem a violência que marca parte da história da Colômbia. Houve alguns que, procurados pela Agência Brasil, manifestaram que nem mesmo gostariam de visitar a mostra, que traz, no título, o possível motivo para tanto trauma: Dores da Colômbia.

Conhecido mundialmente por retratar modelos gordos e roliços, Botero registra, nas obras da exposição aberta em Brasília, os sequestros, torturas, assassinatos e atentados que muitas pessoas ainda hoje associam à Colômbia, principalmente devido à ação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). São 67 quadros pintados entre os anos de 1994 e 2004.

Para a psicóloga Teresa Mayorga, colombiana que há quatro décadas vive no Brasil e que não visitou a exposição, a dificuldade de muitos de seus compatriotas de ver o festivo, irônico e mundialmente conhecido Botero divulgando as dores do povo colombiano pode, de fato, indicar um trauma ainda não superado.

"Ali, estão expostas feridas que ainda estão sendo tratadas. Do ponto de vista de um colombiano, a pergunta a ser feita é: Será que uma exposição como esta, será que reviver uma situação traumática, irá ajudar a pessoa a fechar suas feridas?", questiona-se a psicóloga.

Já para M.C., anistiada política colombiana que vive há seis anos em Brasília, a exposição não só é incômoda, como possivelmente negativa para o país que luta para desassociar sua imagem da de uma terra assolada pelo narcotráfico, guerrilha e violência.

"O problema é que muitas pessoas não sabem que a Colômbia mudou. As obras mostram um aspecto da realidade de meu país, algo que foi muito traumático, mas é importante esclarecer que a Colômbia, apesar de ainda ter problemas, agora vive em paz. E como eu já sofri bastante devido à má fama colombiana e sei o quanto é difícil apagar estes preconceitos, não acho que a exposição seja positiva neste sentido", argumentou M.C, que não nega a qualidade artística dos quadros de Botero.

Já o médico Angel Antonio Parras, no Brasil há 48 anos, recordou o medo que sentia até recentemente quando regressava ao seu país e saía a caminhar pelas ruas da capital, Bogotá. "Tínhamos medo de sair para jantar e passear e não podíamos viajar de noite porque as estradas eram perigosas. Felizmente, hoje, com exceção de algumas regiões do país, é possível andar tranquilamente. Felizmente, a maior parte do que o Botero realisticamente retratou está se tornando um documento histórico. Mas não temos como esconder o que faz parte da história. Para mim, quanto mais vermos o que o país passou, mais nos convenceremos de que se pode superar todas as dificuldades".

Johanna del Pilar, de 27 anos, 12 deles vivendo no Brasil, ressalta que, mesmo traumatizados, os colombianos não cruzaram os braços e lutaram para reverter a violência "que, em algum momento, tocou a todos". "Esta é uma parte muito complicada de nossa história e não podemos negá-la, mas quando eu cheguei ao Brasil as pessoas me perguntavam se, na Colômbia, nós podíamos sair nas ruas, como se o país inteiro vivesse em guerra", relatou.

Ela conta ainda que teve uma infância normal em Boyacá, estado da região central do país, embora "tenha viva a lembrança do barulho da explosão de dois carros-bomba e do tumulto que se seguiu" e do assassinato do candidato presidencial Luis Carlos Galán, em 1989. "Coisas terríveis, que não podemos esquecer, mas que também não adianta ficarmos lamentando".

"A população como um todo sofreu com tudo isso, mas também aprendeu. E, embora, ainda haja resquícios, grupos guerrilheiros e paramilitares atuando e muitas pessoas sequestradas, temos esperança de que vamos superar tudo e ouvir falar cada vez menos da violência na Colômbia", conclui Johanna.

Edição: Lana Cristina