Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, apresentou à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso Nacional o documento mantido nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com a informação de que as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) pretendiam doar US$ 5 milhões para a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002.
O general revelou que a agência não possui memória sobre o possível autor do material, e reiterou que os documentos veiculados recentemente pela imprensa com a confirmação do suposto repasse de verbas das Farc ao PT não foram elaborados pela Abin. "Não nos interessa saber quem os produziu, ou para que. Só pretendemos mostrar que são bastante diferentes daqueles produzidos oficialmente pela Abin", enfatizou o general.
Jorge Félix apresentou aos parlamentares cópia do documento em um telão montado na Comissão. Em voz alta, leu a íntegra do parágrafo que se refere à susposta denúncia de doação de recursos das Farc ao PT. "O primeiro e o terceiro parágrafo não dizem respeito ao tema. Colocamos tarjas para preservar nomes de pessoas e de organizações. E aí vem o parágrafo central: 'Segundo comentários, as Farc-EP, no Mato Grosso, estariam doando US$ 5 milhões ao Partido dos Trabalhadores (PT) para a campanha presidencial. O dinheiro seria dividido em pequenas parcelas, e entregue a empresários simpatizantes do PT, os quais doariam as quantias ao partido camuflando, assim, a origem do dinheiro'".
Segundo Jorge Félix, o documento foi arquivado nos arquivos da Abin sem conhecimento do autor uma vez que a agência de inteligência tem como prática manter as suas fontes de informações. "As fontes que temos às vezes são informantes, e é necessário preservar a fonte, porque senão ela deixa de ser. Faz parte da sistemática das agências de inteligência apagar toda ligação possível entre essa fonte e a agência. O tema é Farc, e vem sendo acompanhado e continuará sendo acompanhado enquanto for uma organização com as características que ela tem", revelou Félix.
O general atribuiu à imprensa o que chamou de "mistura" entre o documento que traz o "boato" sobre a doação das Farc, guardado nos arquivos da agência, com os outros divulgados pela mídia. "Misturaram os dois, o que gerou notícia na Veja e nos editoriais", ressaltou. Além das informações divulgadas pela revista Veja, na semana passada o deputado Alberto Fraga (PTB-DF) apresentou em duas redes de televisão cópia do documento que teria sido produzido pela Abin com a denúncia de doação das Farc ao PT.
A agência não teve acesso ao documento apresentado pelo deputado, que também deu origem à reportagem produzida pela revista Veja. Segundo o diretor-geral da Abin, delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, a agência digitalizou as imagens do documento divulgadas pelo deputado Alberto Fraga nas emissoras de TV e comprovou que não foi produzido pela Abin. "Temos uma série de normas para a redação dos nossos documentos. A data tem posição específica, utilizamos caixa alta para algumas informações, e o documento não está no nosso padrão. Essas informações permitem à Abin dizer que esse documento não foi produzido pela agência", garantiu o diretor-geral do órgão.
Líderes do governo e da oposição pediram ao presidente da Comissão, Cristovam Buarque (PT-DF), que solicitasse ao deputado Alberto Fraga cópia do documento para que pudesse ser analisado pela Comissão. Cristovam Buarque atendeu ao pedido dos parlamenteres, mas o deputado se recusou a entregar o documento à Comissão Mista. "Eu vou entregar toda a documentação, mas em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A CPI seria o caminho correto, até mesmo para inocentar o PT se ele for inocente. Não vai ser dando declarações numa Comissão que não tem força para ouvir as pessoas que nós vamos resolver", afirmou Fraga.
A recusa do deputado gerou discussões entre os parlamentares na tentativa de espaço para comentar a postura de Alberto Fraga. "O senhor está escondendo documentos importantes. Eu vou analisar se temos instrumentos jurídicos para requerê-los", afirmou Cristovam Buarque. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ser fundamental a apresentação dos documentos como forma de garantir a própria credibilidade do deputado. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) acusou Alberto Fraga de estar cometendo "irregularidades" ao decidir esconder o documento.
Com os ânimos menos exaltados, os parlamentares cobraram retratação por parte da revista Veja sobre a susposta doação de recursos das Farc, e do deputado Alberto Fraga a divulgação dos documentos.