Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – As catástrofes ocasionadas por chuvas aconteceram e continuarão a acontecer no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense devido a obras mal planejadas, disse hoje (14) o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, durante divulgação de relatório sobre inspeção feita em dezembro do ano passado pelo conselho em áreas de risco afetadas por enchentes no fim de 2013.
Guerreiro disse que os técnicos encontraram pontes baixas e muito pequenas ou com pilares que dificultam ou impedem a passagem da água em momentos de grande incidência de chuva, entre outros problemas. “O que vimos na visita foram exemplos de várias áreas do município, da região metropolitana e do estado de novas catástrofes que vão acontecer”, disse o engenheiro, que trabalha há mais de 30 anos com áreas de risco. “Lamentavelmente, percebemos que os problemas não são corrigidos. Não há manutenção preventiva nem planejamento com correções definitivas”.
No caso do canal construído no Rio Abel, em Queimados, na Baixada Fluminense, Guerreiro disse que a construção foi feita apenas no perímetro da área urbana, o que serviu para potencializar os efeitos da enchente. “A canalização passa por dentro da cidade, mas antes da área urbana não tem canalização. Com a chuva, o lixo, troncos de árvores, criou-se uma barreira e com a velocidade da água do rio não canalizado, a água se espalhou para os lados e inundou as casas”, explicou. “Obra de canalização, se não cuidar do entorno, é jogar dinheiro fora”.
Dentre as orientações do relatório, que foi enviado às prefeituras do Rio, de Queimados, de Nova Iguaçu, de Japeri e ao governo do estado, estão reflorestamento na bacia hidrográfica dos rios da região, o recolhimento de lixo nas bordas dos rios durante o período da seca e o saneamento dos esgotos. O texto diz que apenas construir estações de tratamento de rios não é suficiente, assim como os desassoreamentos (retirar o assoreamento, como areia e lixo, de rios ou lagoa para liberar o fluxo das águas) e propõe que se evite que os esgotos cheguem à calha fluvial, com a coleta desses resíduos antes deles serem despejados no meio ambiente.
Guerreiro disse que muitas das sugestões do relatório são as mesmas que o Crea-RJ deu aos municípios da Região Serrana e ao governo do estado após as enchentes de 2011. “As pequenas barragens de contenção ao longo dos rios, que já recomendamos na Região Serrana e até hoje não fizeram, são obras relativamente baratas que podem salvar vidas, pois tiram o impacto da água”, disse. “Passados esses anos todos, muito pouco foi feito. Nossa esperança é que desta vez seja diferente”.
O presidente do Crea-RJ lembrou que bastaria o poder público respeitar as leis ambientais para que boa parte do problema fosse solucionada, pois a maioria das tragédias ocorrem em áreas ocupadas irregularmente como margens de rios, locais de declividade íngreme e topo de morros.
“As prefeituras são responsáveis pelo uso do solo urbano. Mas a maioria não fiscaliza. As pessoas não foram morar ali [áreas de risco] por seu bel prazer. Então o primeiro momento é que tinha que ser evitado, impedir que encostas perigosíssimas fossem ocupadas”, disse Guerreiro.
Edição: Fábio Massalli
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