Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil (Macli) traz à capital paulista 70 trabalhos que ilustram livros de vários autores desse gênero. “Nós estamos deslocando aquele objeto que foi originalmente criado para ilustrar uma narrativa literária infantil, isolando-o. E fica muito evidente, quando nós o isolamos, que ele tem vida própria e conexão com a arte contemporânea”, explica Favish Tubenchlak, um dos curadores, ao falar sobre os trabalhos que podem ser vistos até o dia 16 de fevereiro no Centro Caixa Cultural, no centro da cidade.
As obras foram feitas usando diversas técnicas e muitas vezes refletindo a pesquisa do artista sobre materiais e procedimentos. “Cada um está buscando a sua técnica, a sua linguagem, o seu procedimento. São artistas muito sérios, que investigam o procedimento. Às vezes, em um livro, [o escritor] faz de uma forma, em outro livro faz de outra forma”, destaca o curador Podem ser vistas ilustrações elaboradas com pintura a óleo sobre madeira, pintura acrílica sobre papel, colagem com fotografia, xilogravura e desenho digital ao som de uma trilha sonora feita especialmente para a mostra.
O ponto principal é perceber a autonomia do texto e da imagem nos livros infantis. “É um refinamento que vem aumentando os seus adeptos. Possivelmente, sempre existiu o artista visual autor do livro infantil, mas na produção contemporânea isso acontece cada vez mais. Ele não está ali simplesmente ilustrando uma narrativa, ele está criando uma narrativa junto com o escritor”, destaca Tubenchlak sobre a mostra que foi delineada a partir do conceito do estranho familiar de Sigmund Freud, criador da psicanálise.
“Quando a gente foi fazer essa curadoria, a gente levou em consideração um termo cunhado por Freud, que traduzido seria: o estranho familiar. Aquilo que não é você, no entanto, você se reconhece de alguma forma. É estranho e também familiar”, explica o curador sobre o pensamento que se apresenta claramente em algumas obras, como a do brasileiro Fernando Vilela.
Vilela escreveu e ilustrou o livro Lampião e Lancelote, em que o cangaceiro encontra o cavaleiro medieval das histórias da Távola Redonda. “São dois estranhos, sob todos os aspectos, de época e pessoalmente. No entanto, se encontram como em um espelho”, destaca o curador.
Edição: Juliana Andrade
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