Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Cáries, obesidade e diabetes. Essas são algumas das doenças que podem ser causadas ou agravadas pelo consumo do açúcar – substância cujo conceito de “excesso” varia conforme a pessoa. Embora o açúcar esteja presente em frutas (frutose) e no leite (lactose), é o produto processado, obtido a partir da cana-de-açúcar, que mais preocupa os especialistas em saúde. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que o setor público gasta, anualmente, R$ 488 milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcar livre, que inclui tanto a substância presente nas frutas e no leite quanto o produto processado, não chegue a 10% das calorias consumidas por uma pessoa adulta ao longo de todo o dia. O problema é conseguir medir isso, para não extrapolar o limite recomendável. Tanto que, segundo o Ministério da Saúde, a Pesquisa de Orçamentos Familiares, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2008 e 2009, revelou que 61% da população brasileira consomem açúcar em excesso.
Atento ao aumento da participação do açúcar na dieta brasileira e às consequências negativas do seu consumo excessivo, o Ministério da Saúde começou a discutir com as indústrias a redução do teor desse nutriente em alimentos industrializados. Em junho, a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição do ministério organizou um seminário sobre o tema com a participação de representantes do governo, da indústria, da academia e de entidades profissionais, científicas e de defesa do consumidor. Ainda não há definição quanto às medidas que podem vir a ser adotadas.
Presidente da secção regional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Distrito Federal, a endocrinologista Monalisa Azevedo diz que, apesar do valor nutritivo, as pessoas poderiam abrir mão do açúcar. A eliminação, entretanto, não é necessária, nem há qualquer recomendação médica neste sentido, segundo explicou.
“O açúcar não é um alimento essencial. Podemos abrir mão de seu consumo porque seu nutriente, a glicose, está presente em uma série de outros alimentos compostos por carboidratos, como o arroz e o feijão. Agora, se ingerido em pequenas quantidades, o açúcar não é um veneno”, disse a médica. Ela alerta, contudo, que a quantidade recomendável varia de pessoa para pessoa, de acordo com fatores como a condição geral de saúde e a faixa etária de cada um.
Para Monalisa, é importante que os consumidores sejam informados sobre a adição de açúcar em alimentos industrializados e que as autoridades públicas, a exemplo do que já vem fazendo o Ministério da Saúde, estudem os níveis recomendáveis, como no caso do sódio.
“Este é um debate importantíssimo e há exemplos de produtos como alguns sucos em caixinha e refrigerantes que têm que ser melhor estudados. Sempre lembrando que não há, hoje, nenhuma orientação e que não prescrevemos a erradicação do consumo do açúcar, embora restringir a quantidade ingerida seja recomendável para todos – da mesma forma como recomendamos a redução dos produtos industrializados que, sempre que possível, devem ser substituídos por alimentos naturais, como frutas, fonte de açúcar natural”, explicou.
Já o historiador e escritor Fernando de Carvalho, é radical. Diabético, ele defende o fim do uso do açúcar para todos. Em seu libelo contra o produto, O Livro Negro do Açúcar, disponível na internet, Carvalho alerta que, com o tempo, praticamente todos os alimentos industrializados, até mesmo o pão francês, foram sendo modificados pela adição de açúcar, criando o que chama de “a era das doenças crônicas, metabólicas e degenerativas”. A finalidade foi torná-los mais agradáveis ao paladar contemporâneo. O problema é que nem sempre isso é informado aos consumidores.
Em entrevista à Agência Brasil, Carvalho apontou que, nos últimos anos, houve um avanço no tocante ao surgimento e a popularização de alimentos de baixo teor calórico, o que ajudou a despertar a atenção de muitos consumidores. De acordo com ele, contudo, há um movimento contrário.
“O poder econômico da indústria do açúcar é muito grande. Uma deputada chegou a propor uma lei obrigando as empresas a informar o risco de alguns de seus produtos causarem cáries. Não passou de uma proposta”, comentou Carvalho, que critica a falta de leis que controlem o excesso nos alimentos e informem o risco da substância para os consumidores.
“A rigor, o consumidor é quase um órfão de informações. Pelo contrário. O que há é um estímulo sem ressalvas por parte da mídia, sem nunca abordar os problemas de saúde e o custo humano e ecológico decorrente da expansão da área ocupada por canaviais – expansão que não atende só à produção de açúcar, mas também à de etanol”, analisou.
Edição: Davi Oliveira
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