Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Dois meses após o sumiço do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho, na Rocinha, a Defensoria Pública inaugurou hoje (16) um núcleo na comunidade. O serviço vai funcionar nos dias úteis, em horário comercial, oferecendo atendimento jurídico gratuito. O presidente da Associação dos Moradores da Rocinha, Leonardo Rodrigues Lima, comemorou a chegada da defensoria, mas lamentou que isso não tenha ocorrido antes, o que poderia, segundo ele, ter evitado o desaparecimento de Amarildo.
“Quando entrou a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora], tinha que ter entrado com a Justiça para dentro da Rocinha. Para que os moradores não precisem ir a uma delegacia ou até a própria UPP. [Se tivesse Defensoria Pública] o morador poderia vir aqui e denunciar. Porque hoje ninguém tem coragem de depor contra um policial, mas se tivesse uma defensoria, teriam coragem. Na polícia ninguém vai. Eu mesmo, como presidente da associação, não tenho coragem de denunciar”, disse Lima.
O defensor público-geral do estado do Rio de Janeiro Nilson Bruno disse que o objetivo é atrair cada vez mais os moradores para solucionar problemas como registros de nascimento, relações de consumo, direito de família e questões envolvendo infância e juventude. “É a humanização do acesso à Justiça. Pretendemos trazer o serviço de excelência da Defensoria Pública para próximo dessa cidade que é a Rocinha, com quase 170 mil habitantes”, disse Bruno.
Sobre o caso Amarildo, o defensor frisou que é uma das missões da defensoria a defesa dos direitos humanos. “Uma das principais características da Defensoria Pública é a defesa dos direitos humanos e das garantias individuais de cada cidadão. A vinda da defensoria trará uma tranquilidade para a população, mas também ajudará a polícia na sua forma de agir”.
O vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão, defendeu o processo de pacificação em curso nas comunidades adotado pelo atual governo. “É bom lembrar que quatro ou cinco anos atrás sumiam dez Amarildos por dia dentro das comunidades, sem ninguém ter direito a levantar a voz. Tinha um verdadeiro tribunal aqui dentro, que julgava quem entrava, quem saía, quem morria. Isso acabou. Hoje tem a presença da polícia”, disse.
Para Pezão, é preciso enxergar o legado positivo do trabalho policial. “A polícia, em sete anos e sete meses, prestou grandes serviços à população do Rio de Janeiro. A gente não pode crucificar 81 mil policiais por causa de cinco ou seis”, disse o vice-governador, que defendeu o trabalho do ex-comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, apontado por muitos moradores como dono de um temperamento difícil na relação com a comunidade.
“Tem muito disse-me-disse, mas temos que tomar cuidado com boatos. O trabalho do coronel Edson foi muito bom. Ele foi muito importante no início. Ele não pode responder por todo mundo. Não se pode crucificar todos. Ele é um grande policial, pessoa muito séria. Tem que dar o direito das pessoas se defenderem”, disse Pezão.
O pedreiro Amarildo sumiu depois de ser levado por policiais militares para a sede da UPP para prestar esclarecimentos, pois havia sido confundido com um criminoso. Major Edson garantiu que ele foi liberado após ter sido ouvido, mas o pedreiro nunca mais foi visto. Câmeras de monitoramento que poderiam comprovar a versão do policial não estavam funcionando no dia do desaparecimento. Um inquérito corre na Delegacia de Homicídios, mas as conclusões ainda não foram divulgadas. A frase “Onde está Amarildo?” ficou famosa nos protestos de rua por todo o país e o sumiço do pedreiro ainda é lembrado em manifestações.
O núcleo da Defensoria Pública da Rocinha funciona no Complexo Esportivo da Comunidade, na Rua Bertha Lutz, 85. Informações podem ser obtidas pelo telefone 129.
Edição: Fábio Massalli
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